Antevisão — Classic Brugge-De Panne
Os senhores com muitos muitos watts vieram todos. Aquele sprint final, bem aproveitadinho, dava para iluminar De Panne uns 15 dias.

Introdução
Depois da frenética disputa que tivemos em Itália este fim-de-semana, o calendário de clássicas volta à sua terra natal, a Bélgica. Uma promessa: aqui Pogačar não ganha.
É a clássica mais para sprinters das clássicas para sprinters, embora a partir desta época vá ter a concorrência daquilo que inventaram na Dinamarca e que até tem sprint no nome — Copenhagen Sprint — mesmo para mais ninguém ter ideias. É tão para sprinters que desde que se passou a disputar no formato de apenas um dia (até 2018 era uma prova por etapas) apenas um não-velocista venceu, Yves Lampaert, quando em 2020, numa corrida louca, trinfou de forma isolada.
Jasper Philipsen tem sido rei e senhor aqui, tendo vencido as últimas duas edições, algo que lhe dá estatuto de favorito para 2025. Dá? Dá. Dará? Talvez. É que está cá a carga toda, a nata da nata da especialidade, e quando assim é fazer apostas torna-se um exercício de alto risco.

O percurso
Lá no estrangeiro as pessoas sábias desta modalidade designam este tipo de perfil como pancake flat. Fico contente, que eu gosto de panquecas.
Esta corrida tem sido muitas vezes agitada pelo típico vento belga que, aliado às estradas estreitas, às constantes mudanças de direção e às muitas zonas expostas já muitas vezes virou esta prova de pernas para o ar. No entanto, a minha pesquisa por sites de meteorologia belgas à uma da manhã apontam para uma tarde de quarta-feira calma, sem chuva e sem demasiado vento. Fico triste, que eu gosto de vento.

A chegada é algo técnica, numa estrada estreita e que pode provocar cortes/quedas. Deixo aqui o final da edição passada (não juro que a chegada seja exatamente no mesmo sítio mas assumo que sim).
O que esperar
Honestamente, e depois de consultar o boletim meteorológico, não espero muito até aos dez quilómetros finais. Gostava de dizer que vai partir antes e que teremos um dia muito animado, mas os indicadores não apontam nesse sentido. A Bélgica pode, ainda assim, surpreender-nos e criar o caos. Mas às vezes o ciclismo também pode encontrar beleza na calmaria e na previsibilidade, com um pelotão a pedalar tranquilamente até ao confronto final. Teremos tempo para mais emoções prolongadas dentro em breve.
Assim sendo, os melhores sprinters do mundo a lutarem entre si pela mais prestigiada clássica de puro sprint da atualidade não é um mau plano. É esperar que com as velocidades loucas ninguém se desmanche todo e desfrutar do sprint.
Favoritos
Tim Merlier — A discussão sobre quem é o melhor do mundo está quentinha, como o meu povo gosta. O meu voto vai para Merlier, mas aqui ninguém tem maioria absoluta. Para mim, é o que tem a melhor combinação colocação/velocidade e perde para os rivais claramente quando o terreno inclina, algo que aqui não será problema. Já venceu em 2022 e já fechou pódio em mais duas ocasiões.
Jonathan Milan — Não tem resultados notórios aqui, mas também é entre os velocistas de topo o mais recente nestas andanças. Parece ter uma alergia estranha a provas de um dia, nunca venceu nenhuma. Ainda assim, com um comboio de luxo composto por Dan Hoole, Edward Theuns, Tim Torn Teutenberg e Simone Consonni pode finalmente quebrar a malapata.
Jasper Philipsen — É bi-campeão mas vem de uma queda. E vem, a meu ver, numa ligeira trajetória descendente face aos rivais, quando o confronto é mano-a-mano. A sua versatilidade aqui não lhe vai servir de muito e gostaria que o vento soprasse mais forte para tornar o dia mais duro para todos. É estranho dizer que ficaria surpreendido se vencesse?
A não perder de vista
Olav Kooij — Há quem chame aos de cima o big-3. Há quem ache que com este jovem não é um big-3 mas sim um big-4. O Pratas diz que vai ser, em breve, o melhor de todos. Eu acho que ainda lhe falta um danoninho (e um bocado de velocidade de ponta) pelo que por enquanto considero que o seu estatuto é de "melhor dos outros".
Dylan Groenewegen — São duas vezes por ano, talvez três, talvez nenhuma. Mas às vezes este neerlandês aparece a bater-se com os melhores. Pode ser amanhã. Pode sempre ser amanhã.
Milan Fretin — Estou a gostar muito deste início de época e vou dar-lhe o voto de confiança de merecer lugar aqui. Não me desiludas.
Outsiders que podem perder de vista mas eu quero mencionar — O De Lie se já não é classicómano esperemos que ao menos sprinter seja; A Uno-X traz 4 sprinters, dá-me ansiedade (Kristoff, Soren, Blikra e Fredheim); #FreeTobiasLund; Welsford e Molano devem flopar; Madis Mikhels, Paul Penhoet, Démare e Dainese podem surpreender e rondar o pódio; Hoffstetter e Jeannièrre não têm velocidade de ponta mas são muito inteligentes, devem acabar no top-10.
Apostas falso plano
André Dias — Philipsen, mas só se o Arne Marit quiser.
Fábio Babau — Timtin sem Milu.
Henrique Augusto — Já o Tim cantava "Pra ti, Merlier".
O Primož do Roglič — Milan, o melhor sprinter do mundo.
Miguel Branco — Milan. Ó, não vale Bruges depois do meio campo.
Miguel Pratas — Jasp3r Philips3n.
Nuno Gomes — Speedy Merlier.
Rogério Almeida — Mundial de sprinters conquistado pelo campeão europeu.