Antevisão Etapa 10 — Giro d'Italia
Ah pois, mano. Agora Pisa.

Rescaldo da Etapa 9
A vida é sempre assim, não é? Até aqui nada, deserto, nenhures, vitórias de Mads Pedersen enquanto o diabo esfrega o olho, ataques de Ayuso a la Roglič, enfim, uma pasmaceira nos primeiros oito dias do Giro — eu estou a exagerar, houve coisas engraçadas, mas as pessoas têm sempre tendência a dramatizar tudo e eu gosto de abraçar esses movimentos.
Então, vamos lá ver: ligação entre Gubbio e Siena, Toscana adentro, pelas estradas de sterrato da Strade Bianche. E isso, normalmente, significa caos absoluto. Nesta nona etapa do Giro, não foi muito diferente. Uma fuga inicial sem grande desígnio, até que ao primeiro sector de sterrato as coisas começaram a piar de forma diferente. Mads Pedersen e a Lidl-Trek aumentaram o ritmo e logo aí, à primeira, Juan Ayuso e Primož Roglič não se mostraram os mais disponíveis para responder, tendo a reacção sido tudo menos pronta por parte dos dois maiores candidatos à vitória final em Roma (pelo menos antes desta etapa). Mas a coisa foi passando.
Mais à frente, no segundo sector, em Serravalle, a 51 quilómetros da meta, o esloveno, Ayuso, Tom Pidcock, entre outros caíram, provocando por isso cortes no pelotão, hesitações, corredores a desmontar da bicicleta. É mais ou menos nessa altura que a movimentação decisiva decorre: Bernal, Arensman, Rivera, Wout van Aert e Isaac Del Toro isolam-se da concorrência. Haters podem dizer que o mexicano não devia ter feito isto ao seu líder, mas como a imagem abaixo exemplifica, a visão era bastante reduzida e Del Toro julgou que Bernal fosse Ayuso porque ambos usam camisolas brancas. Eu também quando vejo um homem de t-shirt branca a passar ao longe nunca sei bem se é o senhor das bolinhas e das línguas-da-sogra junto ao mar ou se é um beto do râguebi a passear o seu Weimaraner. É difícil.

Pronto, depois lá foram andando os cinco. Às tantas, Arensman fura e é aglutinado pelo grupo de Ayuso, que com o tempo também foi ganhando tempo a Primož Roglič, uma vez que este além de ter caído, ainda conseguiu furar. A diferença entre ambos, no final, viria a ser de um minuto e doze.
Na frente, os aventureiros foram sucumbindo às exigências da terra batida, Bernal ficaria pelo caminho e deixaria a vitória a ser discutida entre Del Toro e Wout van Aert. O belga não puxou uma única vez nos últimos 20 quilómetros e na Via de Santa Caterina, já no final, conseguiu ultrapassar o mexicano, conseguindo o tão desejado triunfo. Quanto a Del Toro, é o novo camisola rosa e não tem como ser excluído como candidato ao pódio — quem sabe, até mais do que isso.
O percurso
Ao primeiro dia, chegamos ao momento mais importante da segunda semana. São quase 30 quilómetros praticamente planos, o que significa que diferenças abissais podem ser feitas na GC. Sobretudo numa segunda semana onde as dificuldades montanhosas são bastante reduzidas. O percurso tem apenas uma ligeira subida, não categorizada e uma descida algo técnica, com quatro curvas em cotovelo. Tirando isso, é prego a fundo até Pisa.

O que esperar
Bom, é um contrarrelógio, certo? Espera-se que os corredores dêem o melhor e que os ponteiros façam o seu trabalho. E que, se possível, o vento, ou a meteorologia no geral, não sejam grandes factores. Os especialistas, nomeadamente dois deles, devem superiorizar-se aos líderes das equipas e candidatos à geral. Mas isto em Grandes Voltas…
Favoritos
Joshua Tarling — É o favorito número um. É o melhor contrarrelogista desta startlist e, a meu ver, tem obrigação de ser superior à concorrência. Qualquer resultado que não seja a vitória é uma desilusão para o britânico.
Wout van Aert — E se ele lhe apanha o gosto? Se há alguém que pode bater Tarling é Van Aert. Ainda assim, o belga vai precisar de voltar a ser aquele Wout de outros tempos. Às vezes, basta uma vitória para conseguirmos voltar a ser o que sempre fomos.
A não perder de vista
Juan Ayuso — No primeiro crono, Ayuso desiludiu-me. O que não quer dizer que a receita se mantenha. Ayuso já provou ser muito bom na especialidade e deve estar sedento de dar uma resposta interna depois do que aconteceu no domingo.
Primož Roglič — Por falar em dar respostas... Estar a 2'25 de Del Toro é tudo menos confortável.
Edoardo Affini — Especialista que é especialista tem de se chegar à frente em 30 quilómetros planos. Também é verdade que às vezes, nas Grandes Voltas, os homens da GC vão buscar pernas a sítios inesperados.
Mathias Vacek — Eu já não digo nada. Vacek talvez devesse estar exausto, mas a verdade é que este parece um poço sem fundo. É naturalmente um dos nomes a ter em conta.
Jay Vine — Nos últimos dois anos, tem-se revelado como cada vez melhor contrarrelogista. Pode ser um joker.
Apostas falso plano
André Dias — O Eulálio a partir da fuga. Mas há sequer dúvidas nesta?
Fábio Babau — Joshua Tarlando.
Henrique Augusto — Joshua Tarling. 2/3.
O Primož do Roglič — Jodue Tarling.
Miguel Branco — Joshua Tarling. Ele veio cá para isto.
Miguel Pratas — Ayuso Pisa a concorrência.
Nuno Gomes — Tarling em easy mode.
Rogério Almeida — Desculpa, Affini, o Tarling ganha os dois.