Antevisão Etapa 10 — Vuelta a España

Feroz batalha ou procissão? Aqui nesta casa o pessoal torce sempre pela primeira.

Antevisão Etapa 10 — Vuelta a España
La Vuelta

Rescaldo da Etapa 9

A etapa começou com uma grande luta pela fuga e com uma novidade: a Q36.5 e, sobretudo, a Lidl-Trek queriam uma oportunidade de lutar pela vitória na subida final e controlaram a formação da fuga, de forma a garantir que não se criaria um grupo grande e difícil de perseguir. Liam Slock, Michel Hessmann, Michal Kwiatkowski, Archie Ryan e Kevin Vermaerke seguiram na sua aventura que desde cedo se percebeu estar destinada ao insucesso.

A subida final não assustava particularmente (13km a 5.2%) e a dupla Q36.5/Lidl-Trek controlou na esperança de ver repetido o cenário de outros dias, com um grupo relativamente largo a chegar junto com os principais favoritos da GC e dar aos seus lideres, Giulio Ciccone e Tom Pidcock, a oportunidade de "sprintar" para a vitória. Mas a verdade é que quem faz a dureza são os ciclistas.

Por exemplo, para Juan Ayuso esta subida foi super fácil, já que abriu para o lado assim que começou a subida, não fosse alguém pedir-lhe que trabalhasse, e perdeu 21 minutos. Essa decisão custou-lhe um honroso 157.º lugar na etapa e uma rescisão de contrato. Outro exemplo foi Jonas Vingegaard que, olhando para a maior inclinação dos primeiros quilómetros da subida pensou "why not? só o outro é que pode ser maluco não?", mandou Jorgenson fazer um leadout a fundo e atacou a 11 quilómetros da meta. Giulio Ciccone seguiu na roda, durante uns minutos, e depois concluiu que quem voa demasiado perto do sol, queima-se.

Atrás, a liderar o grupo dos favoritos, vinha o inevitável João Almeida. Não respondendo à aceleração de Jonas Vingegaard — por incapacidade, mau posicionamento ou simplesmente características — o português fez o que tão bem sabe e meteu o seu ritmo. Quando Jay Vine abriu para o lado, depois de um esforço forte de 500 metros que manteve Vingegaard em ponto de mira, o grupo ainda seguia com cerca de 10 elementos. Depois entraram em ação os famosos Reboques Almeida. Um a um, os adversários foram caindo. Hindley out, Bernal out, Gall out, Ciccone out. Sobrou Pidcock, que merece uma salva de palmas pela exibição, na roda do português, e começou um "mano a mano" com Vingegaard para o que restava da subida.

(foto: UAE Team Emirates)

O braço de ferro entre o português e o dinamarquês prosseguiu até ao fim, com uma defesa ótima do nosso Bota Lume. Apenas viu o seu ritmo ser interrompido para pedir a um pobre coitado Tom Pidcock, que vinha nos seus limites, que lhe crescessem bolas maiores. Na parte mais plana o britânico ainda ajudou e os danos foram limitados a 24 segundos sobre um Vingegaard que provou ser o mais forte em prova.

As diferenças maiores foram feitas para trás, Gall perdeu 1 minutos e o grupo dos restantes GC perdeu 1:46, criando um ótimo cenário relativamente ao pódio para o João.

O percurso

Mais uma etapa à "La Vuelta". Uns topos aqui e ali, mas a grande dificuldade surge no final, com mais uma chegada no alto de uma primeira categoria.

Puerto de Belagua é provavelmente a subida mais difícil da Vuelta até agora (embora não se compare com o que está para vir) e apenas vê a sua pendente média baixar porque os últimos dois quilómetros são feitos num esbelto, perfeito e sensual falso plano. Os primeiros 7 rondam sempre os 7%, o que, como já vimos nesta prova, pode chegar para fazer diferenças assim exista vontade.

O que esperar

A grande questão do dia é se alguém vai ter coragem de controlar a corrida depois da tareia que Vingegaard impôs nos seus adversários. A Lidl duvido que volte a ter coragem, a Q36.5 pode fazê-lo seguindo um raciocínio deste estilo "vamos perder para o Ving e o Almeida, mas vamos aproveitar a boa forma do Pid para tentar ganhar tempo aos restantes e fazer uma boa classificação de etapa que vale bons pontos UCI". Depois sobram UAE e Visma. Eu a Visma acho muito dificil, o perfil deles quando estão na frente é mais defensivo e não acredito que vão controlar a etapa toda para tentar vencer, ainda mais com os dias que se aproximam. Concedo que, caso alguém o faça por eles ou pelo menos os ajude, depois na subida final usem os seus recursos para endurecer a corrida.

Agora a grande questão: poderá a UAE querer redimir-se do feio circo que anda em torno de si e ir com tudo para a etapa, meter a carne todo no assador? Eu não acho impossível, o ciclismo é um desporto que vive muito da publicidade e da marca, e o backlash recente sobre a equipa pode criar pressão mediática para se unirem em torno do seu líder. "Trabalhadores da UAE, uni-vos!" deu um belo titulo de podcast, vamos ver se terá efeitos práticos.

Em suma, caso haja ambição nas equipas da GC deveremos presenciar mais uma bela luta entre os principais galos do pelotão. Caso contrário, a fuga vingará e, mesmo que se tentem fazer alguns ajustes atrás, não acredito em grandes diferenças.

Favoritos

Jonas Vingegaard — Chega em alto e Pogačar não está presente. Esta equação termina sempre com Vingegaard favorito.

Santiago Buitrago — Tem estado discreto mas esta subida assenta-lhe muito bem. A Bahrain deve perder a Roja nesta etapa e pode assim procurar a glória de uma forma alternativa depois da saída de Tiberi da GC. O colombiano se estiver numa fuga de sucesso pode inclusivamente voltar à luta pelo top-10, não está assim tão longe.

A não perder de vista

João Almeida — Anda lá meu menino, manda a mensagem. Interna, para o Ayuso, para o Matxin, para os teus fãs em Portugal e para os teus colegas. Chegou o teste derradeiro: pode João Almeida competir com um dos aliens pela vitória numa grande volta? Esta etapa vai ser o primeiro episódio, agora que já se viu que a luta, a existir, é a dois. O João está a sprintar bem pelo que se chegar um grupo pequeno na frente pode levantar os braços.

Mikel Landa — Landismo vive siempre hermanos. Vai para a fuga, volta à disputa pela GC e ainda ganha a etapa. Que dia feliz.

Giulio Ciccone — Esperemos que tenha aprendido a lição. Se a corrida for para a linha, o italiano é sempre um dos mais fortes.

Antonio Tiberi — Ele está cá, nesta Vuelta, não sei se sabiam. Tal como Buitrago, depende da postura da Bahrain para com a camisola vermelha. Mas eu acredito que vão para a etapa.

Apostas falso plano

André Dias — Mikkel Bjerg. Há alguém da UAE que ainda não tenha atacado?

Fábio Babau — Jonas Vingegaard. Who else?

Henrique Augusto — Não mencionei PIIIIIIID acima para mencionar aqui.

O Primož do Roglič — Segundo murro na mesa do João, arranca sozinho.

Miguel Branco — Na única chegada a Larra-Belagua ganhou Remco. Ou seja, amanhã ganha Ayuso.

Miguel Pratas — Jonas Vingegaard, desta vez para a roja.

Rogério Almeida — Ayuso, o trabalhador por conta própria.