Antevisão Etapa 11 — Vuelta a España
País Basco é sempre palco de espetáculo e desta vez não será exceção. Eu acho que ganha o Pid, quero que ganhe o João, mas no fim deve ganhar o Ayuso.

Rescaldo da Etapa 10
Tivemos 100 quilómetros de luta pela formação da fuga a abrir o dia, corridos a cerca de 50km/hora. Foi uma loucura, mas no fim toda a gente conseguiu o que queria — a maior parte das equipas estavam representadas e não havia ninguém que colocasse em risco a classificação geral.
Junior Lecerf era o melhor colocado, a pouco mais de 4 minutos, pelo que a Bahrain nunca deixou expandir demasiado a vantagem. Característico de um grupo grande, existiram vários ataques e contra-ataques de onde se formou um grupo de 9 ciclistas que viriam a disputar a etapa. Chegado o início da subida final, Pablo Castrillo foi o primeiro a conseguir destacar-se, mas rapidamente vimos Jay Vine fechar o espaço e arrancar para a 2.ª vitória nesta edição e a 4.ª nesta prova. Um trepador deste nível com liberdade é garantia de vitórias e, apesar das críticas possíveis às escolhas táticas da equipa, a verdade é que já levam 4 vitórias e têm João Almeida a menos de 1 minuto de Jonas Vingegaard. Not bad.

Foi atrás, no pelotão, que houve mais emoção. João Almeida mandou a sua equipa para a frente logo no início da subida, com destaque para o trabalho de Juan Ayuso que diminui o grupo de cerca de 30 unidades para umas 10 com um minuto de ritmo infernal. (nota: durante o dia de ontem foi anunciada a rescisão de Ayuso com a UAE e hoje de manhã o espanhol foi bastante claro a mostrar o seu desagrado, dizendo que a equipa o queria prejudicar e que foi uma atitude ditatorial - terminado este momento, arrancou para a estrada com a camisola da equipa. Vá-se lá entender, mas se o objetivo é limpar a imagem e se para isso tem de ajudar o João, eu aprovo). Ao espanhol seguiu-se Bjerg que, descaído da fuga tentou meter mais um pontinho de ritmo, e a Bjerg seguiu-se o ataque de João Almeida. Já sabemos todos que a explosividade do português não é a melhor, embora tenha melhorado muito, por isso não ter conseguido dropar Ving não foi uma surpresa. João ainda voltou a tentar um ataque, este mais forte onde só Pid e Ving seguiram, mas não houve colaboração nem dureza suficiente para levar o movimento avante. Ainda assim, ótimos sinais do Bota Lume, a demonstrar ambição, atitude e, sobretudo pernas.
No fim, chegou (quase) tudo junto no que aos favoritos diz respeito. Apenas Gall e Bernal desiludiram, perdendo cerca de 30 segundos e Torstein Træen cedeu finalmente a Roja, que volta assim ao corpo de Jonas Vingegaard.
O percurso
Sobe e desce, desce e sobe. É muito duro mesmo o passeio em redor de Bilbao. Nos últimos 50 quilómetros passamos duas vezes pelo Alto del Vivero (4.3km a 7.9%), a última das quais a 25 quilómetros da meta.

E depois, para fechar, um paredón. Alto de Pike é o Mur de Huy basco e deve chegar para produzir bastante animação. Depois do cume é sempre a descer até à meta, pelo que as diferenças poderão ser difíceis de fechar.

Queria só recordar que um perfil muito parecido com este foi palco da jornada de abertura do Tour em 2023, que viu Adam Yates vencer, num épico duelo de gémeos, e envergar a camisola amarela.

O que esperar
Voltamos à grande questão: fuga ou pelotão? Ontem acertei ao achar que dava fuga, mas falhei nos nomes. Desta vez vou apostar no pelotão e tentar acertar nos nomes.
É verdade que neste tipo de terrenos o controlo é muito difícil, mas eu acho que tanto a Q36.5, como a Lidl-Trek podem tentar. Os seus homens da GC são muito fortes neste tipo de terrenos e têm de tentar aliar a possibilidade de ganhar margem para os rivais à possibilidade de vencer a etapa, algo que nenhuma das duas fez até agora.
Na GC eu espero ataques, mas provavelmente apenas na última subida, a não ser que alguma equipa com mais do que uma carta (Bora?) tente alguma maluquice. Acredito que Vingegaard vá querer testar o João, mas também acredito que o português, numa subida tão curta em que o medo de rebentar está menos presente, se vai aguentar nas canetas. Podem haver separações entre os favoritos algures durante a subida, mas a minha aposta é que algures existirão também hesitações e acabará por juntar tudo (tudo = uns 10).
E aí o vencedor será quem tiver mais disposto a arriscar na descida ou quem for mais rápido a sprintar.
Favoritos
Thomas Pidcock — Tanto para descer rápido, como para sprintar em grupos reduzidos, Pidcock é o homem certo. Já merece uma vitória para fazer de cereja no topo do bolo desta grande Vuelta que vem fazendo e amanhã parece o dia ideal para o fazer.
Andrea Bagioli — Eu não descartei a hipótese fuga, e o italiano além de estar com boas pernas é ótimo nestes terrenos. Caso a Lidl decida apostar em tentar vencer com um fugitivo, Bagioli é o número um na minha perspetiva.
A não perder de vista
Giulio Ciccone — A Lidl joga em todos os tabuleiros, mas até agora ainda não foi bem sucedida. Ciccone também já merece e é, entre os que podem passar Pike na frente, dos que tem melhor ponta final.
João Almeida — Aguenta miúdo, o mais importante é não perder tempo e mostrar que esta nova versão do João já não tem medo de paredóns. Se a isso pudermos somar uma vitória num sprint final, tanto melhor. Como o João está não ficaria admirado.
Jonas Vingegaard — Sempre, sempre, sempre um candidato. Já mostrou que a ponta final está lá e que a vontade de vencer também.
Kevin Vermaerke — Voltando ao departamento "fugas" o americano tem estado muito agressivo nesta Vuelta, até nas montanhas, pelo que acredito que amanhã, num terreno melhor para si, vá tentar.
Victor Langellotti — Um monegasco a ganhar numa grande volta. Já aconteceu? Chegou em grande forma, mas até ver tem estado discreto, acredito que a poupar-se para amanhã.
Markel Beloki — Voou no domingo, surpreendendo toda a gente. Será capaz de dar (ainda) mais um passo em frente?
Apostas falso plano
Henrique Augusto — PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIID.
O Primož do Roglič — O classicómano Ciccone.
Miguel Branco — Ora, pelas minhas contas, dá Jay Vine.
Miguel Pratas — Dia Internacional sem rádio. Marc Soler.
Nuno Gomes — Pedersen na fuga. Pedersen a faturar.
Rogério Almeida — Amanhã é para um basco...Markel Beloki.