Antevisão Etapa 12 — Vuelta a España

Às vezes não é sobre subir. É sobre descer.

Antevisão Etapa 12 — Vuelta a España
La Vuelta

Rescaldo da Etapa 11

Digam o que disserem, amem ou odeiem, Marc Soler é amor. Ou talvez seja irreverência. Ou, em dias como hoje, pura parvoíce. Meteu-se na fuga com Pedersen e com Aular e depois, numa teimosia sem igual, decidiu continuar a solo, a mais de 80 quilómetros da meta. No Alto del Vivero, a cerca de 60kms, descolou, ele que até aqui pouco tinha ajudado João Almeida por, alegadamente, estar a defender a sua posição no top-10. E hoje, por algo meio incompreensível, perdeu muito tempo. É bom: agora já pode trabalhar. Foi também na primeira passagem do Alto del Vivero que Mikel Landa decidiu atacar e isolar-se. Pouco depois saiu Buitrago, juntando-se ao espanhol. Atrás, novo grupo ficaria composta com Kamiel Bonneu, Eddie Dunbar, Juan Guillermo Martínez, Victor Campenaerts, Jordan Labrosse e Louis Rouland.

Este grupo viria a ser alcançado pelo pelotão e na segunda passagem pelo Vivero, João Almeida testou Vingegaard duas vezes, mas sem conseguir fazer descolar o camisola vermelha, mas esfrangalhando o grupo. Ficaram os principais favoritos, com excepção para Felix Gall — também o ainda bem classificado Torstein Træen não conseguiu estar nesta movimentação. A curiosidade, para tristeza lusa, é que a Visma tinha três gregários com o seu líder, João Almeida estava sozinho. Na descida do Vivero, em direcção ao Pike, muita gente reentrou.

Depois, notícia triste não só lusa, mas para todos, a organização devido aos problemas com os activistas pró-palestina, por uma questão de segurança, decidiu tirar os tempos para a GC a 3kms da meta, sem que tenha existido vencedor de etapa. E em Pike, um dos momentos mais incríveis desta Vuelta até agora — por muito que fosse um dia anticlimático —, Tom Pidcock sentou Jonas Vingegaard. Amealhando os 6 segundos de bonificação no topo da terceira categoria. João Almeida não conseguiu seguir nenhum dos dois, apesar de ainda ter sido terceiro no que às bonificações diz respeito. Quanto a Ving, conseguiu colar em Pidcock no início da descida e juntos seguiram até aos 3 quilómetros (onde a etapa terminava) da meta, ganhando uma ligeira vantagem a João Almeida de 10 segundos.

Os protestos pró-Palestina na chegada a Bilbao [fonte: X no Daniel Friebe]

O português subiu assim a segundo na GC e está agora a 50 segundos de Jonas Vingegaard e com seis segundos de vantagem sobre Tom Pidcock, que depois desta pura demonstração de força chegou ao terceiro lugar.

O percurso

A décima segunda etapa desta Vuelta decorre na região da Cantábria, conhecida pelas suas mais de 6500 cavernas e pela Playa de El Sardinero. O que é que isso significa? Vamos ver quem vence o jogo do cucu e se um famoso ex-pescador prefere a sombra ou o ataque.

Laredo-Los Corrales de Buelna(144.9kms)

Uma primeira subida, a mais de 100 quilómetros da meta, e depois a Collada de Brenes, bem durinha, com o cume a pouco mais de 20 quilómetros da meta em Corrales de Buelna.

Esta subida de Brenes tem sido prato principal da conceituada prova júnior Volta Ciclista al Besaya, onde este ano Benjamín Noval (um dos melhores juniores do mundo, já a caminho da INEOS) espetou mais de dois minutos a toda a concorrência, entre eles o português José Miguel Salgueiro que corre formação espanhola da Picusa Academy. Na Vuelta, a Collada de Brenes foi passada por uma única vez, em 2022, em direcção ao Pico Jano — no fundo, foi a entrada dessa principal dificuldade do dia e chegada em alto. Já agora, diga-se: nesse dia, um tal de Jay Vine chegou à sua primeira vitória na Vuelta e em grandes voltas.

O que esperar

A primeira subida pode bem ser o cenário de se definir os fugitivos, que imagino que sejam muitos. Só não será assim, se a Q36.5 de Tom Pidcock quiser controlar a fuga para a vitória em etapa do britânico — sobretudo depois de o que aconteceu em Bilbao; Pidders ia muito provavelmente para a vitória. A fuga tem aqui mais uma bela hipótese. No entanto, naturalmente, a Collada de Brenes vai, provavelmente, agitar algumas águas no grupo dos principais favoritos. Tem um quilómetro a 10% de média (e outros dois acima de 9%), é demasiado bom para que ninguém tente.

Por outro lado, sabemos que João Almeida não é propriamente o corredor mais ofensivo do mundo, embora já o tenhamos visto vencer em traçados semelhantes a este em 2025. Mas com o binómio Angliru-Farrapona tão perto, este pode ser um dia para o português se manter tranquilo. Quanto a Vingegaard, é pouco provável que queira arriscar na descida, no entanto, a estrada poderá sempre fazê-lo perceber que é uma boa oportunidade; não o vejo com grande possibilidade, mas às vezes é nos dias menos evidente que as diferenças se fazem. O que é certo, é que Tom Pidcock terá, seguramente, esta etapa apontada, mais que não seja para tentar ganhar tempo aos rivais da GC. Todos sabemos que ninguém desce como Pidders, ninguém tem a sua técnica, ninguém tem a sua loucura.

E, claro, num dia como este, que gera receio, há sempre quem tente atirar a sua moeda. Outros heróis sem capa podem emergir.

Favoritos

Tom Pidcock — É fechar os olhos e assumir que aquela descida é o melhor lugar para Pidcock fazer diferenças na GC. Já que a subir tem sido — e deve continuar a ser — seguir na roda.

Jonas Vingegaard — Nunca se sabe quando é que vai acordar a querer ser o Pogačar.

A não perder de vista

Marc Soler — Soler é um mestre a descer. E na minha consideração já não pode descer mais, portanto…

Magnus Sheffield — Não parece muito bem, o que pode ser um problema difícil de resolver na Collada de Brenes. Mas algo que me diz que vai querer estar na fuga. E algo me diz que pode ganhar. Bernal, deixa lá o miúdo ir à vida dele, tu também andas cansado.

Finn Fisher-Black — Está já a mais de uma hora de Vingegaard. E reparem, eu também acho que isto não é vida para ele, mas perder tempo desta maneira, um corredor que apesar de tudo não sobe assim tão mal, é porque vai tentar qualquer coisa em breve. Ou então descobriu que é gregário, também pode ser.

Bruno Armirail — Para contrarrelogista, não sobe nada mal. Se o deixam entrar na fuga, vai ser um problema.

Um Astana qualquer — Escolham vocês, mas um ou dois deles, Tejada, López, Poels…

Apostas falso plano

André Dias — O espectador no sofá, com mais um grande dia de fuga.

Fábio Babau — O Bau deve estar a correr.

Henrique Augusto — Andrea Bagioli.

O Primož do Roglič — Este 'tá no gym, claro.

Miguel Branco — Domen Novak a partir da fuga?

Miguel Pratas — Na última deu raia, nesta dá Nadav Raisberg.

Nuno Gomes — O Nuno deve estar a beber.

Rogério Almeida — En los Corrales gana el cerdo.