Antevisão Etapa 14 — Tour de France

Ainda está longe o Natal. Terão os aventureiros direito a prenda ou Pogačar quer sentenciar a sentença sentenciada deste Tour?

Antevisão Etapa 14 — Tour de France
Tour de France

Rescaldo da Etapa 13

ITT rumo ao topo de Peyragudes. 4 quilómetros planos seguidos de 8 quilómetros a 8%. Vocês nem vão acreditar quando eu vos disser quem ganhou — Tadej Pogačar voltou a demonstrar a sua superioridade e venceu confortavelmente com 36 segundos sobre o seu ex-arqui-rival Jonas Vingegaard. Quanto à amarela, assunto encerrado, vamos a temas realmente interessantes.

O dinamarquês bi-campeão do Tour afastou algumas dúvidas quanto à sua superioridade perante os restantes adversários e mostrou que está numa ilha só dele, ali assim a meio caminho entre o Rei Alien e os comuns mortais. Deve ser um pouco aborrecido. Mas hoje foi bom ver Vingegaard voltar a mostrar um bom nível, mais condizente com aquilo que dele esperamos, e proporcionar-nos talvez o momento mais entusiasmante do dia quando, na rampa final, se percebeu que existia a hipótese real não de ser apanhado por Pogačar, como se chegou a especular no pré-etapa, mas sim de apanhar Remco Evenepoel, algo que se viria a confirmar.

A imagem do dia. (foto: TNT Sports)

As fragilidades de Remco voltaram a ficar evidentes. O belga não parece estar a passar um bom momento. O que por um lado é chato, por outro dá-nos uma batalha divertida para acompanharmos o resto deste Tour. A luta pelo pódio e pela camisola da juventude estão ao rubro depois do contrarrelógio de hoje ter aproximado ainda mais as coisas, sobretudo devido à bela demonstração de vida que Primož Roglič nos ofereceu.

São agora apenas 86 segundos entre 3.º e 7.º classificado e apenas 49 segundos entre 1.º e 4.º dos que competem pela camisola branca. E Remco, embora lidere ambas as corridas, parece estar longe de ter qualquer um destes objetivos assegurado. Lipowitz ontem foi o mais forte dos outros e hoje defendeu-se bem (4.º), Onley e Vauquelin estão a ser duas belas surpresas que me deixam curiosidade sobre até onde podem ir (o francês um pouco abaixo, hoje) e Roglão, estando inteiro, é Roglão.

Haja algo a que nos agarrarmos. A luta pelo pódio e a história que Tadej Pogačar realiza todos os dias diante dos nossos olhos. Pode ter o seu quê de aborrecido, mas não tem menos de espetacular.

A luta pelo pódio, e pela branca, deverá ser o principal ponto de interesse do que resta deste Tour. (foto: Eurosport)

O percurso

Esta é das duras mesmo. 60 quilómetros iniciais num falso planão lindíssimo abrem o apetite para o que segue. Tourmalet a abrir, coisa pouca, 19 quilómetros a 7.5%. Aspen e Peyresourde mantêm a tendência de se evitar metros planos nesta etapa até chegarmos, finalmente e já de pernas bem doridas, à subida final.

Pau — Luchon-Superbagnères (183km)

Superbagnères é uma subida a sério e foi muito festejada pelos adeptos mais antigos, ou mais estudiosos. Isto porque o Tour não passava aqui desde 1989 e regressa finalmente, depois de ser alvo de obras para aumentar a segurança à maior das corridas. Na memória desses antigos, está um dos mais míticos dias do ciclismo: quando Greg Lemond venceu aqui em 1986, ganhando mais de 4 minutos ao seu colega Bernard Hinault e reduzindo a diferença na geral para apenas 40 segundos desse polémico Tour que viria a consagrar o americano, na altura, bicampeão da maior prova do ciclismo.

26 anos depois da última passagem e 29 depois dessa mítica batalha, a montanha regressa ao centro das atenções. E é muito bem-vinda.

A história é bela, mas já lá vai. Faça-se nova.

O que esperar

A grande questão é a mesma de sempre neste tipo de etapas — fuga ou GC?

Para dar GC, só penso haver dois caminhos.

1) O Tadej arma-se mesmo em gulosão malandro e manda a equipa para a frente de forma a tentar inscrever o seu nome também nesta subida e começar a ameaçar bater o record do Cav já em 2026 — hipótese bastante plausível (e legítima);

2) A Visma mantém a sua estratégia apesar das constantes demonstrações de superioridade de Pogačar e endurece a etapa ao máximo, rezando para que apareça um "I'm gone, I'm dead" — hipótese menos provável, dado que eu acredito que a Visma irá esperar pelos Alpes na esperança que a relação de forças mude (ainda assim, o avanço sobre o 3.º é tal que podem dar-se ao luxo de tentar, por descargo de cosciência).

Seja pela etapa ou não, ação não faltará entre os galos deste pelotão. Como referido acima, a luta pelo pódio está intensa e eu imagino sobretudo uma Red Bull ofensiva na tentativa de subir lugares com Lipo e Rogla, aproveitando as debilidades de Remco e a inexperiência nestes palcos de Vauq e Onley. Quanto aos dois suprassumos, se for pela etapa PogiBoy vai embora, se não for pela etapa talvez rolem juntos até à meta.

Quanto à hipótese fuga (a mais provável para mim) não há muito a dizer. Toda a gente sabe que vinda do pelotão não tem hipóteses, pelo que toda a gente vai tentar estar na frente. Lenny Martinez deverá marcar uns pontos para as bolinhas, apesar da forma não ser a melhor, e o resto do pessoal tentará levar companhia para a frente, de forma a manter a GC o mais longe possível antes da subida final. A formação da fuga espera-se caótica e longa; talvez só aconteça mesmo já na escalada ao Tourmalet.

Para fechar, duas curiosidades minhas para esta etapa. A primeira é como a Lidl lidará com o primeiro sprint intermédio, já que caso Milan volte a não pontuar vai ver o camisola amarela chegar bem perto na classificação por pontos. A segunda é se, dadas as já gigantes diferenças na geral, vão haver ciclistas com ambições de top-10 (ou já no top-10) a tentarem aproveitar o caos inicial para se colocarem na frente. Tipo o Carlitos no outro dia, mas desta vez ciclistas com pernas. Talvez nesta situação as equipas se anulem umas às outras, mas pode dar bom entretenimento.

Favoritos

Tadej Pogačar — Eu acho que dá fuga, mas se der fuga há 20 nomes que podem ganhar e se der GC só há um. Por isso, estatisticamente falando, Pogačar é o principal favorito a vencer. Estou muito curioso em relação à abordagem do esloveno a partir daqui neste Tour, perceber se vai querer ir a todas como é seu apanágio ou começar a deixar algumas migalhas para os outros com vista a não arranjar demasiados inimigos no pelotão e com vista a começar já uma gestão rumo aos próximos objetivos (Vuelta + Mundiais?).

A não perder de vista

Simon Yates/Sepp Kuss — Se não podes vencer a geral, vai de tentar sacar umas etapas. E eles têm aqui dois trepadores do melhor que há, pelo que não é uma hipótese de descartar.

Adam Yates — A UAE pode entrar em modo distribuir prendas e eu diria que o primeiro na fila é o escudeiro favorito do patrão, Adam Yates. Hoje testou-se e não andou mal. Numa fuga, será sempre um dos favoritos a vencer.

Jordan Jegat — Uma das agradáveis surpresas deste Tour até agora. Está naquela posição ótima para tentar uma Martinzada e, quem sabe, pelo caminho finalmente fazer um francês levantar os braços.

Cristián Rodríguez — Situação semelhante a Jegat, está discretamente no 12.º posto da geral e na chegada ao Hautacam fez top-10. Belas pernas do melhor espanhol em competição.

Thymen Arensman — Já fez 2.º numa fuga este ano e agora que já toda a gente percebeu que trabalhar para o Carlitos é como tentar esvaziar o mar um balde de cada vez, deverá ter liberdade.

Michael Storer — Mantendo o tema aquático, pedra mole em água dura tanto bate até que fura.

Santiago Buitrago — Depois da queda parece vir em crescendo de forma e a partir da fuga é um perigo.

Luke Plapp — Voou hoje de forma inesperada no contrarrelógio, mostrando grandes pernas e fechando na 5.º posição final, sendo o 3.º mais rápido nos últimos quilómetros da subida. Quem tem estas pernas pode sempre sonhar.

Jonas Vingegaard — Embora me pareça complicado imaginar algum cenário em que um GC não esloveno vence a etapa, a acontecer deverá ser Vingegaard. É claramente o mais forte dos restantes e deverá ser ele a aproveitar um eventual e improvável dia mau de Pogačar.

Apostas falso plano

André Dias — Superbagnères não vai ser Superbanhada. Vou ser eu no sofá e um Super Tejada.

Fábio Babau — Final do dia com 10min em Vingegaard. Vai ser sempre a dar Paugačar.

Henrique Augusto — G.

O Primož do Roglič — Roglão, meu primão.

Miguel Branco — Na ausência de Fignon, Hinault, Lemond, Millar ou Delgado, vence o cota Woods.

Miguel Pratas — Varridela nos Pirenéus.

Nuno Gomes — Faz sentido continuar? Poga ganha todas até ao fim. Montanhas, sprints e falsos planos!

Rogério Almeida — Pogačar, sei o que fizeste o verão passado...e já chega.