Antevisão Etapa 15 — Giro d'Italia
Tudo a dar de fuga.

Rescaldo da Etapa 14
Não se passou nada. Até que a primeira passagem na quarta categoria de Saver gerou uma queda brutal, com muitos corredores, que partiu a corrida e complicou a geral para muito boa gente. Ciccone esteve quase a entrar no carro, depois decidiu-se a acabar, mas o sonho de uma boa GC acabou. E vejamos se amanhã parte — chegou a 16 minutos com toda a sua equipa da Lidl-Trek. Num segundo grupo, ficaram Ayuso, Roglič, Bernal, Arensman, Storer, entre outros; Tiberi ficou ainda mais atrasado, juntamente com Adam Yates. No fundo, os únicos que não cederam tempo foram Isaac Del Toro, Simon Yates, Richard Carapaz, Derek Gee, Damiano Caruso e Thomas Pidcock. Isto se não contarmos com Max Poole, já bastante mais distanciado.
Nem todos caíram, mas o facto de o pelotão ter ficado cortado impediu que muita gente passasse tranquila. Entretanto, a fuga que todo o dia tinha andando na frente, Kasper Asgreen, Mirco Maestri e Martin Marcellusi aproveitou a situação. O dinamarquês foi-se embora e voou para a vitória, tendo chegado com 16 segundos de vantagem sobre Groves e Kooij que completaram o pódio. Este é o segundo triunfo de Asgreen em Grandes Voltas, depois da etapa alcançada no Tour 2023, em Bourg-en-Bresse.
No final, Del Toro saiu muitíssimo reforçado na GC; chegou com 48 segundos de vantagem do grupo onde vinham os seus dois mais directos rivais: Ayuso e Roglič.
E assim, uma etapa aparentemente inofensiva, às custas da chuva, do empedrado, de estradas estreitas, faz as diferenças que a inexistência de montanha não foi capaz de produzir.
Del Toro é agora primeiro com 1'20 de vantagem sobre Simon Yates que ascende ao segundo posto. Ayuso está em terceiro a 1'26. Carapaz sobe a quarto. Roglič mantém a quinta posição mas agora a 2'23. Tiberi desce para oitavo e está a 3'02 do camisola rosa.
Sangue. Prevejo sangue para a próxima e última semana.

O percurso
Esta é a segunda maior etapa da Volta a Itália 2025. Só por isso, já temos dificuldades.
Depois, temos Monte Grappa a partir da sua vertente clássica da Strada Cadorna, em honra ao comandante Luigi Cadorna, o homem que definiu os destinos do exército italiano na primeira metade da Primeira Guerra Mundial — não confundir com a vertente que Tadej Pogačar fez na etapa 20; essa era a partir de Semonzo del Grappa, pela Strada Giardino, e é mais curta e mais dura. Desta vez subimos a partir de Romano d'Ezzelino, vertente que não é subida desde 1982. Esta não deixa, no entanto, de ser uma barbaridade: 25kms a quase 6% a 1600 metros de altitude. Portanto, nunca o Grappa é coisa acessível, em nenhuma das suas dez vertentes. Diga-se que, no total, esta célebre montanha (importante ponto de defesa italiano na Primeira Grande Guerra) já foi utilizada por sete vezes durante a história do Giro d'Italia. Esta é a oitava.
O ano passado, o Grappa foi feito por duas vezes e para Pogačar deu a sensação de ser uma lomba. Mas o esloveno não está cá. E, assim sendo, proponho que se acompanhe esta subida com grappa, a bebida alcóolica italiana feita à base de bagaço. A cada quilómetro que Lorenzo Fortunato estiver na frente da corrida, bebe-se um shot. E por cada vez que a UAE estiver a controlar o pelotão bebem-se dois.
Depois acordamos a meio da segunda categoria de Dori, dificuldade que depois do Grappa vai ser mais dura do que parece na imagem e nos números: 16.6kms a 5.3%.
A meta é em Asiago, terra do queijo com o mesmo nome que talvez seja boa ideia irem consumindo a acompanhar os shots que vão ingerir no Grappa.
Sempre a pensar em vocês.

No fundo, esta vertente do Grappa é dividida em duas zonas. Uma primeira até ao quilómetro 12, onde os primeiros são bem bem durinhos. E uma segunda, os últimos seis quilómetros, muito constantes, e já depois de quase 20 quilómetros a subir, com a altitude a aumentar, que não se adivinham nada fáceis.

O que esperar
Fuga. Espero fuga a sério, com trepadores de qualidade e outros nem tanto. E acho que a fuga vai triunfar. Tendo em conta os últimos 20 quilómetros, não prevejo grandes movimentações nos homens da classificação geral. Isto não quer dizer que não existam tentativas (talvez mais na Dori do que no Grappa) de várias equipas e também não quer dizer que alguns homens ainda dentro da luta pela vitória final não se fiquem pelo caminho.
[este parágrafo foi escrito antes da queda da Etapa 14. Ninguém manda antecipar-me, não é verdade?]
Claro que amanhã vai dar classificação geral. Depois da queda, depois do tempo que Ayuso, Roglič, Bernal e companhia cederam, não há nada como atacar a partir do quilómetro 0 do Monte Grappa. Agora a sério: não sei se esta queda muda assim tanto o que vai acontecer amanhã. A fuga deve ganhar na mesma, acho é que aumentaram as hipóteses de algo acontecer lá atrás nos homens da geral.
[este parágrafo foi adicionado depois da queda, só para não parecer assim tão mal.]
3900 metros de acumulado não é surreal, mas é bastante duro. Ao mesmo tempo, tendo em conta o que aí vem na terceira semana, acho que os grandes favoritos à geral podem tender a retrair-se. Não podemos é esquecer que existem alguns já bastante distantes na geral que podem surpreender e tentar integrar a fuga. Penso em Adam Yates, Pidcock, Storer, Piganzoli, Rubio, Max Poole ou Matteo Moschetti, a 2h45m.
E claro, a INEOS vai mexer. A INEOS agora mexe sempre. E não me parece que Bernal, corredor que já tem duas Grandes Voltas no bucho, esteja assim tão interessado num sexto lugar final.
Favoritos
David Gaudu — Tem de tentar. É um dos melhores corredores já arredado da classificação geral.
Romain Bardet — É um mantra, repitam comigo: a esperança…
Wout Poels — Ele sabe como ganhar etapas destas. E a montanha de Fortunato está relativamente bem controlada.
A não perder de vista
Nairo Quintana — Nairito Quintana tem uma história com esta montanha. Em 2017, despachou Dumoulin nestas estradas durante a etapa 20. Com 53 segundos de vantagem, perdeu no contrarrelógio entre Monza e Milão. Em 2014, ganhou a cronoescalada até Bassano del Grappa. Sim, Quintana ganhou um contrarrelógio na vida. E ganhou o Giro. Será tempo de regressar aos grandes momentos por uma última vez?
Paul Double — Não sei se tem um Monte Grappa nas pernas, mas tendo a acreditar que sim. E tem vontade de tentar a montanha, naturalmente.
Lorenzo Fortunato — Se Fortunato não vai à Montanha, então a Montanha vem a Fortunato. Por andar sempre lá, arrisca-se a ganhar.
Louis Meintjes — Para vencer uma etapas destas, não é só preciso saber subir. É preciso saber muito da vida. E Meintjes sabe.
Apostas falso plano
André Dias — Se der fuga em barda, dá Bardet.
Fábio Babau — Primão, chegou a tua hora.
Henrique Augusto — Vamos, Egan.
O Primož do Roglič — Lorenzo Fortunato a solo desde o Grappa.
Miguel Branco — David Gaudu. À procura de mais três pontos.
Miguel Pratas — Del Toro, lançado pelo Ayuso.
Nuno Gomes — Fuga? Taco van der Hoorn.
Rogério Almeida — Fuga… Poels.