Antevisão Etapa 15 — Tour de France

Carcassone é palhinha. Bom, depende da composição da fuga, claro.

Antevisão Etapa 15 — Tour de France
Tour de France

Rescaldo da Etapa 14

Ora que bela etapa foi esta. O Tour está acabado, por isso temos de nos agarrar a tudo. Foi uma bela etapa por vários motivos. Em primeiro lugar, houve nevoeiro e vocês sabem que nós no falso plano somos pelo nevoeiro. Depois: Pogačar não venceu, o que neste caso já é motivo de festejo porque pelo menos sempre tivemos algo diferente.

A fuga demorou a formar-se e, como já era de esperar, aproveitou a passagem pelo Tourmalet, primeira subida do dia, para se adiantar. Entre os homens escapados sobressaiu Lenny Martinez, novo líder da montanha e prémio combatividade da jornada. Tobias Halland Johannessen, dentro do top-10 da GC, juntamente com outros bons trepadores, organizaram-se numa fuga que, no entanto, foi sempre controlada pela UAE, num gesto que parecia gritar POGI QUER A ETAPA.

Pelo caminho, a notícia do abandono de Remco Evenepoel, que logo cedeu nas primeiras rampas do Tourmalet — será desta que se dedica a outro tipo de esforços? Antes disso ainda, queda e consequente retirada para Skjelmose — duas perdas importantes para a competição. Lenny Martinez andou uma porrada de tempo sozinho, Kuss e Valentin Paret-Peintre lá o alcançaram e mais tarde, durante Peyresourde, outros se juntaram. Entre eles, o homem que viria a ser o mais forte: Thymen Arensman.

No regresso à mítica montanha de Superbagnères (estrela dos anos 80), e apesar de ter tido a equipa ao trabalho o dia todo, Pogačar não pareceu com a frescura habitual. E a primeira movimentação até veio de Vingegaard, a quatro quilómetros da meta. Pogi demorou mais do que o habitual a fechar o espaço, mas apesar disso fê-lo sentado, sem entrar em pânico. Nessa altura, já a vitória do neerlandês da INEOS parecia certa. Entrou na derradeira dificuldade com coisa de 2'45 de vantagem e foi capaz de gerir até ao final. O regresso a Superbagnères, passados 36 anos, a herança de tão célebres disputas entre Fignon, LeMond, Hinault, Millar, Delgado, talvez pedisse outra história. Mas a verdade é que para isso acontecer, esta tinha de ser a primeira grande etapa de montanha do Tour. É voltar a trazê-la para outras edições agora que as questões logísticas e os acessos estão resolvidos.

No final, Arensman venceu, Pogi seguiu na roda de Ving até atacar dentro dos últimos 300 metros para ser segundo, amealhar as bonificações e meter quatro segundos na estrada ao dinamarquês. Bem tranquilo.

"Como é que se diz cheese em dinamarquês?" ©Twitter Tour de France

O percurso

Muret-Carcassone (169.3km)

O menu do dia é relativamente morno. Isto é: parece demasiado difícil de digerir para os homens mais rápidos, mas também não é uma iguaria impossível. Duas terceiras categorias consecutivas que formam uma zona mexida mas acessível a muita gente e uma segunda categoria que sim senhora, assim vale a pena.

Até apitas.

O Pas du Sant, felizmente, está a coisa de 60 quilómetros da meta, porque senão o senhor esloveno ainda tinha alguma ideia. Três quilómetros a mais de 9%. Depois do mesmo, continuamos em subida, num planalto que termina a cerca de 42 quilómetros da meta. Segue-se uma longa descida, daquelas com uns mini-muros pelo caminho, e um plano final de menos de dez quilómetros. Da última vez que a meta se ergueu em Carcassonne, Philipsen bateu Van Aert e Mads Pedersen.

O que esperar

A fuga vai ser numerosa, seguramente. 60 quilómetros depois do arranque há um sprint intermédio e os interesses nesses pontos são consideráveis, ou seja, Milan sabe que dificilmente vai conseguir chegar e quer garantir que pontua para se distanciar de Pogačar (28 pontos entre ambos, neste momento). Julgo que o mais seguro é Milan ir para a fuga com alguns elementos da equipa ou a Lidl-Trek vai morrer a tentar controlar. Por outro lado, Mathieu Van der Poel será outro interessado na fuga: pode amealhar alguns pontos pela verde, mas sobretudo, quer a etapa. E Van der Poel, mesmo com Pas du Sant, é um forte candidato à vitória, dependendo de que companhia terá e de como estará a corrida no momento da segunda categoria.

O Pas du Sant parece-me, de facto, um ponto chave na tirada. Se alguns bons trepadores estiverem escapados, a coisa pode ficar feia para homens como Van der Poel, Van Aert, etc. Estou a pensar em homens como Grégoire, Laurance, Aranburu, Velasco, homens desse perfil — com capacidade para pendentes exigentes e com boa capacidade a descer.

Tudo isto para dizer que sprint num grupo alargado é algo que vejo como impossível. Pode não ser um solo, tudo bem, mas nunca será um grupo muito grande, até porque a descida torna ainda menos visível esse cenário. Por outro lado, se a fuga for composta por gente que não deve muito aos dotes de trepar, o Pas du Sant pode ser um lugar mais de defesa do que de ataque, ou seja, ver quem fica pelo caminho por falta de pernas e quem as tiver unir-se em direcção à meta, para depois discutir a vitória entre si. É um traçado engraçado e tem uma coisa boa: tal como hoje, em princípio, não ganha Pogi.

Favoritos

Mathieu Van der Poel — Eu acho que ele na fuga vai estar. Logo aí, é favorito ou um dos. O homem até numa etapa plana ia ganhando e só levava o Rickaert consigo.

Wout van Aert — O seu líder está tão mal que ele mal tem de trabalhar. Isso podia era ter sido assumido desde a primeira etapa e se calhar tínhamos aqui alguém para lutar verdadeiramente pela camisola verde. Bonecos.

Romain Gregóire — A questão é se entra na fuga. Porque se entra… Já foram. Já o vimos descer este ano como um louco. E este sim é menino para aproveitar o Pas du Sant e deixar estes companheiros de fuga mais pesados pelos caminho.

A não perder de vista

Fred Wright — O miúdo tem andado activo e este perfil não é demasiado duro. Algum dia tem de acontecer, não é?

Simone Velasco — Outro a fazer boa época e um Tour onde já lá esteve umas vezes mas sem conseguir aproveitar a oportunidade. Vejamos se é desta.

Bastien Tronchon — É mais dotado para clássicas. Mas essa desculpa um dia tem de acabar, não é verdade?

Alex Aranburu — Quando não sei bem quem vai ganhar, digo sempre o nome do Aranburu. Não sei bem o que é que isso diz sobre mim. Nem sobre ele.

Apostas falso plano

André Dias — Harold Tejada. Carcassonne é para carcaça dura.

Henrique Augusto — Eu erro sempre. Por isso garanto que Alaphilippe não ganhará.

O Primož do Roglič — .A Visma tem de apostar em novos terrenos já que na montanha está curto. Campenaerts.

Miguel Branco — Escrevi isto tudo mas eu acho que vai ganhar o Cort.

Miguel Pratas — Agora o Arensman limpa tudo. O Cav que se cuide.

Nuno Gomes — Mathieu van der Poel.

Rogério Almeida — Amanhã é dia de São Gregório.