Antevisão Etapa 16 — Vuelta a España

Que justiça seja feita e que ganhe Pidcock nesta etapa que serve de aperitivo para a grande semana final desta Vuelta.

Antevisão Etapa 16 — Vuelta a España
Vuelta a España

Rescaldo da Etapa 15

Se cheira a fuga, parece uma fuga e diz que é uma fuga, em princípio vai mesmo dar fuga. E assim foi. Com um inicio frenético na contagem de montanha que abria o dia, mais de 40 ciclistas destacaram-se do pelotão e desde cedo ficou claro que seria entre eles a disputa pela vitória na etapa. A Visma atrás liderava um pelotão que antecipou o dia de descanso e passeou por Espanha, entediado, à espera de ver o pano de meta final.

Posto isto, a história fez-se apenas na parte da frente da corrida. Jay Vine continuou a amealhar pontos para solidificar a sua liderança na luta pela camisola das bolinhas e, ao atacar para vencer a sua contagem de montanha, acabou por se isolar do pelotão na companhia de Louis Vervaeke. Os dois chegaram a ter quase três minutos sobre o grupo principal da fuga, que vinha sendo liderado por uma Lidl - Trek que tinha praticamente a equipa toda na frente, a trabalhar para finalmente alcançar uma vitória nesta prova.

A cerca de 30 quilómetros da meta e já com a "fuga de la fuga" debaixo de olho, um grupo composto por sete ciclistas (Pedersen, Aular, Buitrago, Bernal, Frigo, Dunbar e Sheffield) destacou-se e seguiu na perseguição ao duo da frente. Alguma desorganização atrás e estava feita a seleção sobre quem ia lutar pela etapa.

Com Vine e Vervaeke alcançados, começaram os ataques nos últimos 10 quilómetros, mas um super Mads Pedersen nunca deixou o grupo partir-se. Respondeu a tudo, impôs ritmo e, no fim, ainda bateu facilmente toda a gente ao sprint. Grande dia para o dinamarquês que, além de vencer a etapa, deu um grande passo em frente rumo à camisola verde no final da prova.

Vale a pena destacar que Junior Lecerf, com os 13 minutos ganhos ao pelotão, entrou no top-10 da classificação geral. Também Ciccone e Bernal recuperaram muito tempo depois da "tareia" que tinham levado na véspera. Nota ainda para Ivo Oliveira que esteve na fuga mas falhou o corte, fechando ainda assim na 11.º posição, e para Magnus Sheffield, que se isto do ciclismo não tivesse de ser praticado em cima de uma bicicleta seria um ótimo atleta.

Finalmente, Mads Pedersen. (foto: BikeMagazine)

O percurso

168 quilómetros com 3500 metros de acumulado positivo são o menu do dia pós-descanso. É muita atribulado, todo o perfil, cheio de sobe e desce não categorizados na sua fase inicial. Na segunda metade da etapa, chegam as subidas mais a sério: o Alto da Groba (11.4km a 5.4% mas com rampas bem mais difíceis pelo meio) abre as hostilidades, seguido por um topo em Couso (3.7km a 6.9%) e pelo Alto de Prado (3.2km a 8.9%). Os ciclistas ainda cruzam mais um topo de 1.5km a 6.5% antes de chegarem à subida final, já com as perninhas doridas.

A subida que coincide com a meta desta etapa é uma subida clássica espanhola, muito irregular. Abre com 3 quilómetros bem duros a que se seguem 3/4 quilómetros num portentoso e belo falso plano antes antes da rampa final que irá coroar o vencedor da tirada.

O que esperar

É mais uma etapa que tem escrito "fuga" na testa, e apenas uma equipa pode tentar impedir esse desfecho. A Q36.5 ainda deve ter o cancelamento da etapa de Bilbao atravessada na garganta e, olhando para este perfil e para as pernas do seu líder, deverão apostar tudo em dar-lhe a oportunidade de usar a sua ponta final em Herville para finalmente levantar os braços nesta Vuelta. A questão aqui é que bloco suíço não é assim tão forte e deverão existir muitos interesses por parte de múltiplas equipas em ver a fuga vingar.

O momento de decisão será a formação da fuga. Se saírem 40 ciclistas outra vez, nada a fazer. Se conseguirem controlar bem essa fase da corrida talvez tenham uma chance. Eu não vejo mais nenhuma equipa de GC a ajudar, sobretudo tendo em conta a etapa duríssima que teremos na quarta-feira e, como tal, não prevejo grandes diferenças entre os homens da geral. Ainda assim, deixar a nota que foi numa subida deste estilo, com um início duro que depois suavizava, que se fizeram até agora as maiores diferenças entre Jonas Vingegaard e João Almeida, na etapa 9. Poderemos ter mais uma prova de que são os ciclistas que decidem se a corrida é ou não dura e, no limite, pode haver a tentativa da Visma de explorar a falta de explosividade no João neste tipo de esforços. Curiosidade também para ver a postura da UAE em torno do seu líder numa etapa em que Ayuso, por exemplo, se estiver na fuga será o principal candidato à vitória na etapa.

Favoritos

Tom Pidcock — Eu gostava muito que ele ganhasse e já merece. A equipa vai dar tudo, acredito eu, veremos se será suficiente para lhe dar essa oportunidade. E se, caso seja, o britânico consegue rematar o trabalho da equipa no final.

Santiago Buitrago — O colombiano ainda não picou o ponto, algo que costuma fazer quando se desliga na geral. Uma vitória que faz falta a uma Bahrain que tem estado um pouco abaixo das expetativas nesta prova.

A não perder de vista

Marco Frigo — Ele vai andar lá, vai continuar a tentar. Talvez um dia a sorte lhe sorria e talvez amanhã seja esse dia.

Kevin Vermaerke — Combativo mas tem-lhe faltado timing e pernas para estar na disputa pela vitória. Esta etapa enquadra-se muito bem nas suas características e ficaria muito surpreendido se o americano não andasse pela fuga a procurar a vitória.

David Gaudu — Vuelta mais Gaudu é impossível. Aparece na primeira semana fortíssimo, vence uma etapa e enverga a Roja. Depois desaparece completamente. E agora, na última semana, aposto numa reencarnação do francês para procurar bisar nesta Vuelta.

Victor Langellotti — Já é tempo, Victor. Preciso de ti na fantasy.

Juan Ayuso — É assim, eu espero que não. Mas se ele estiver lá não lhe deve fugir a vitória. A fugir alguma coisa, será certamente o auricular.

João Almeida/Jonas Vingegaard — Caso a Q36.5 consiga trazer a disputa da vitória da etapa para o pelotão, estes dois nomes estão em grande forma e podem vencer. Seria mais um episódio deste duelo que tanto espetáculo nos tem dado ao longo da prova.

Apostas falso plano

André Dias — Harold Tejada. Hoje e sempre.

Fábio Babau — Tom Pidcock, finalmente.

Henrique Augusto — Os deuses do ciclismo são justo. Pidcock.

Miguel Branco — Lorenzo Fortunato. Alguma coisa tem de fazer.

Miguel Pratas — Ninguém merece mais do que Marco Frigo.

Nuno Gomes — Santiago Buitrago. Anda a cozinhá-la e ninguém se apercebeu.

Rogério Almeida — Uiii o Vine vai dar uma grande Vueltaaa.