Antevisão Etapa 17 — Giro d'Italia

Mortirolo e falso plano.

Antevisão Etapa 17 — Giro d'Italia
Giro d’Italia

Rescaldo da Etapa 16

A terceira semana não podia ter começado da melhor forma para os fãs de ciclismo, em especial para os jihadistas tugas. Mas já lá vamos.

Etapa molhada, etapa abençoada. O pelotão saiu de Piazzola sul Brenta já sem Milan Fretin e Paul Magnier, que nem se dignaram a aparecer na partida, e a chuva intensificou-se, ajudando a adensar a imprevisibilidade ao longo dos 203 quilómetros de corrida. A primeira vítima do dia foi Joshua Tarling que, dando-se conta da dureza desta última semana, atirou-se ao alcatrão antes de abandonar. A fuga definitiva, com quase 20 corredores, incluía nomes importantes como Van Aert, Bilbao ou Fortunato, e alguns pinos como Masnada ou Gaudu. A vantagem chegou a ter quase 10 minutos e Fortunato ia somando pontos nas KOMs.

Enquanto a UAE dava tréguas, a INEOS impunha um ritmo alto e à entrada do quilómetro 100 começou a carnificina: Alessio Martinelli deslizou ravina abaixo num acidente aparatoso. Logo depois, mais uma desistência, o abandono mais esperado, com Primož Roglič a sair de campo e a entregar a braçadeira a Giulio Pellizzari. Entretanto, mais uma peripécia: Juan Ayuso a fazer meio-fundo à descarada, mas o VAR não interviu e safou-se da cartolina. Ainda haveria tempo para Egan Bernal ir lamber o asfalto.

A fase decisiva da etapa aproximava-se e a EF assumiu as rédeas do pelotão, com vista a um ataque de Richard Carapaz. As duas primeiras vítimas? O favorito à partida, Thymen Arensman, e o gregário da UAE, Juan Ayuso. A facção jihadista do falso plano abriu imediatamente a garrafa de champanhe — o espanhol viria a cortar a meta a 14:47 do vencedor, juntamente com Afonso Eulálio.

Na fuga, Yannis Voisard atacou na descida de Santa Barbara, chegando a ter 30 segundos de vantagem mas foi alcançado no início da subida final pelo trio de perseguidores — Fortunado, Scaroni e Cepeda. A Astana não é a Visma e sabem bem o que fazer em vantagem numérica: atacar à vez. Foi só seguir a regra #1 do manual Ciclismo para Totós e pouco depois o ecuatoriano da Movistar ficou apeado. O duo da Astana foi de mão dadas até à meta e o maglia azzurra ofereceu a vitória a Scaroni.

1-2 para a equipa do ano. (foto: Giro d'Italia)

No grupo da GC, Simon Yates abriu as hostilidades, com Carapaz sempre muito bem e Del Toro a tentar evitar perder a roda do britânico. O corredor da EF lá atacou, ninguém foi capaz de responder, e foi aumentando a distância gradualmente, chegando a alcançar Pellizzari, o novo líder da Red Bull, que tinha sido o primeiro a distanciar-se do grupo dos favoritos. O italiano viria a descarregar Carapaz nos últimos metros, fechando o top-3, 100% transalpino, na etapa — os italianos acabaram com o jejum de vitórias no Giro. Del Toro acabou por não aguentar o ritmo de Yates mas conseguiu limitar perdas e segurar a Maglia Rosa. Derek Gee, em crescendo, mostrou-se a um nível altíssimo — 5.º, a 13 segundos de Carapaz — e subiu ao quarto posto da geral. Michael Storer foi o outro líder que terminou no top-10 da etapa e subiu umas posições na GC.

Carapaz foi o dealer do dia. Baralhou as cartas todas no top-10.

O percurso

54 quilómetros de falso plano; Passo del Tonale (15.2km @ 6.1%); 25 quilómetros a descer; Passo del Mortirolo (12.7km @ 7.6%); Semi queda livre de 14 quilómetros; 34 quilómetros de falso plano. Um belíssimo rollercoaster stage.

San Michele all’Adige (Fondazione Edmund Mach) - Bormio

O que esperar

No aftermath da última etapa espero um dia bem mais calmo no que toca a mexidas no top-10. É uma etapa bem dura mas mais curta, sem um final em alto e, dadas as novas diferenças na geral, um dia mais conservador por parte destes intervenientes é o mais provável. A subida do Mortirolo é ainda muito longe da meta, a descida é muito perigosa, a maioria não deverá querer riscos — ainda há muita montanha para escalar até domingo.

A fuga deverá ter margem para se distanciar desde cedo e aqueles corredores que estão em terra de ninguém — voltistas fora do top-15, como Pidcock ou Poole — poderão ter carta branca para irem à procura da vitória no Mortirolo. Na minha opinião o fator determinante para o desfecho da etapa será a descida do Mortirolo. Os corredores mais audazes e "astúcios" nesse troço de alto risco poderão cavar diferenças difíceis de anular no extenso falso plano final. Cheira-me a solo win.

Favoritos

Romain Bardet — Masterclass na descida do Mortirolo para one last Grand Tour solo win? Era bonito.

Thomas Pidcock — Lá anda ele num sólido e inútil top-16. Atina e atira-te de cabeça na descida do Mortirolo.

Georg Steinhauser — Third Week Steinhauser vai dar show.

A não perder de vista

Filippo Zana — Desistiu de tentar ser voltista, podia tentar ser caçador de etapas.

Derek Gee — A minha aposta entre os homens da geral.

Giulio Pellizzari — Tenho de incluir o melhor trepador desta edição na etapa do Mortirolo.

Adam Yates — De volta ao top-10, está na hora de fazer um raid para o top-5.

Christian Scaroni & Lorenzo Fortunato — Os boys da Astana.

Apostas falso plano

André Dias — Romain Bardet. Estava-se a guardar para estas descidas.

Fábio Babau — Beer monday.

Henrique Augusto — Depois de brilhar Pellizzari, Piganzoli brilhará.

O Primož do Roglič — Estou de luto. Por mim, acabou o Giro.

Miguel Branco — A INEOS mete ritmo. Bernal ataca. E depois ganha outro qualquer.

Miguel Pratas — Afonso Eulálio. Hoje poupou-se na roda do Ayuso.

Nuno Gomes — Pellizzari. Chapada de luva branca 2.0.

Rogério Almeida — Pidcock, deixa só de existir e ganha.