Antevisão Etapa 18 — Tour de France

Quem foram os sádicos que desenharam esta etapa? O nosso muito obrigado, seus perversos.

Antevisão Etapa 18 — Tour de France
Tour de France

Rescaldo da Etapa 17

A última chance para os sprinters teve uma fuga curta mas com muita qualidade: Jonas Abrahamsen, Vincenzo Albanese, Mathieu Burgaudeau e Quentin Pacher. É uma loucura os diretores das principais interessadas no sprint deixarem o norueguês entrar na fuga do dia. À primeira todos caem, à segunda só cai quem quer.

A Lidl-Trek, com o incansável Quinn Simmons, controlou o quarteto da frente. Bem demais por vezes, nomeadamente na primeira quarta categoria do dia, quando dropou com sucesso os principais sprinters. O problema foi que Jonathan Milan também ficou para trás. Caricato.

Mas, como esperado, o italiano recolou e lá seguiu, sempre bem colocado na frente do pelotão. A 45 quilómetros da meta, mais um momento burlesco: Wout van Aert ataca sozinho, quando os fugitivos estavam com cerca de um minuto de vantagem. Dez quilómetros depois era absorvido pelo pelotão, confirmando a inutilidade dessa movimentação e provocando um sorriso sarcástico de MVP Simmons. Entretanto a chuva prevalecia e a fuga ganhava ânimo.

A 11 quilómetros da meta Abrahamsen virou-se para os colegas da fuga e disse: "Ha det bra og på gjensyn i morgen". Enquanto o norueguês seguia sozinho, era Pascal Ackermann que pautava o ritmo no pelotão. O ciclista da Uno-X foi absorvido pelo pelotão a 4500 metros da meta.

A um quilómetro do fim, queda da praxe na estrada molhada a envolver Biniam Girmay e Tim Merlier — o eritreu ficou maltratado. Tudo ficou mais fácil para Jonathan Milan que bateu Jordi Meeus e Tobias Lund Andresen sem dificuldade. É a segunda para o italiano, que fica assim com mais margem na classificação dos pontos.

© Cor Vos

O percurso

Três montanhas de categoria especial, 5642 metros de acumulado. Uma brutalidade.

Vif - Courchevel (Col de la Loze) (171.5km)

São quarenta quilómetros para aquecer os motores com um sprint intermédio em falso plano até que aparece o primeiro monstro do dia: o Col du Glandon. Os corredores vão ter de escalar esta montanha que tem a contagem a cerca de 1916 metros de altitude. São 21.7 quilómetros com 5.1% de inclinação média, nada de especial, mas as duas secções de dois quilómetros com pendentes a rondar os 10%... É apenas um aperitivo para o que aí vem.

Col du Glandon (21.7km @ 5.1%)

Os corredores vão aproveitar os 20 quilómetros em descida para rezar aos deuses do ciclismo por misericórdia, o que aí vem não é pêra doce: vão trepar o Col de la Madeleine até aos 1986 metros. Com uma ascensão mais constante e mais dura, são muitos quilómetros a penar. A etapa podia terminar aqui.

Col de la Madeleine (19.3km @ 7.8%)

Mas não. Após 25 quilómetros de descida e 15 em plano começam a subir o Col de La Loze, tão ansiado por nós e tão cruel para o pelotão. São mais de 25 quilómetros de puro deleite no sofá enquanto vemos outros seres humanos num sofrimento atroz. Aquelas rampas na fase final são maléficas. Havia necessidade de tanta dureza a quase 2300 metros de altitude? Quem foram os sádicos que desenharam esta etapa? O nosso muito obrigado, seus perversos.

Col de la Loze (26.5km @ 6.4%)

O que esperar

Mais uma etapa controlada por Pogačar ou mais um "I'm gone, I'm dead"? A ascensão é outra — desta vez é por Courchevel e não por Méribel —, a maturidade é outra, os estados de espíritos são outros, mas uma coisa é certa: Vingegaard está em crescendo e vai tentar que o agora melhor ciclista de todos os tempos volte a furar nas duas pernas como em 2023. Perdido por cem, perdido por mil, é assim que estes aliens encaram esta rivalidade, vendem bem cara a derrota. Ambos sabem o que é ganhar e o que é perder, mas nunca abdicam de ir no limite.

Em 2023 Pogačar rebentou no Col de la Loze e Vingegaard confirmou o bis.

A dureza é de tal ordem, e a superioridade dos dois da videirada é tal, que dificilmente a fuga vai ter o mesmo sucesso que no Mont Ventoux. A Visma vai endurecer a corrida, vai tentar meter um ou dois na fuga, Vingegaard vai atacar e na hora da verdade vamos ver quem está mais forte. Esta vai ser discutida pelos dois dominadores desta década na Volta a França. Que ganhe o melhor.

Pogačar vs Vingegaard

Tadej Pogačar — Quatro minutos na Volta a França são muito tempo mas no Col de la Loze nem por isso. Basta um furo numa das pernas e essa vantagem esfuma-se em poucos quilómetros. Está numa fase diferente da carreira e não acredito numa repetição do filme de terror de 2023.

Jonas Vingegaard — Tem de arriscar e vai arriscar. É uma tarefa hercúlea recuperar os quatro minutos ao esloveno mas se há alguém capaz de tal feito, esse alguém é Jonas Vingegaard, bi-campeão da Volta a França.

Trepadores

Felix Gall — O Gall da terceira semana é o terceiro melhor trepador do mundo. Missão top-5 em curso.

Thymen Arensman — Tem sido presença assídua na fuga e se as pernas estiverem ao nível Superbagnères pode vencer de novo.

Carlos Rodríguez — Top-10 a quase 10 minutos do top-5. Tem margem e tem a obrigação de tentar qualquer coisa. A etapa não acaba a descer mas para descer já basta a sua reputação, desde a polémica renovação de contrato.*

Lenny Martinez — Precisa de vencer para sonhar com a maillot a pois.

Enric Mas — Se não for outra vez de Mas a Menos.

Valentin Paret-Peintre — 50 quilos de muito amor e sem Remco na mochila.

Michael Storer — É o tudor ou nada por uma vitória em etapas.

Simon Yates & Adam Yates — Se o Vingegaard vir que está sem pernas para a remontada pode deixar o Simon ir pela etapa. E nesse caso o Adam deveria seguir na roda do irmão.

*DNS

Apostas falso plano

André Dias — Paret-Peintre. Mas desta vez vai o outro.

Henrique Augusto — Jonas Vingegaard. É desta.

O Primož do Roglič — Então, o Tour já acabou. Etapa 18 da Vuelta ganha o Ganna.

Miguel Branco — I'm gone, I'm dead capítulo II era incrível. Anda, Vingegaard.

Miguel Pratas — Tadej Pogačar concretiza um magnífico trabalho da Visma.

Rogério Almeida — Col de la Madeleine? Demi Vollering, qual é a dúvida?