Antevisão Etapa 2 — Tour de France

MvdP vs Pogačar. Parece Abril. Gosto tanto.

Antevisão Etapa 2 — Tour de France
Tour de France

Rescaldo da Etapa 1

O primeiro dia de uma Volta a França já é, per si, um dia nervoso. Caso o vento sopre na direção e intensidade certas para poder provocar cortes, passa de nervoso a caótico, e foi a isso que assistimos.

Faltam 20. (foto: X La Flamme Rouge)

A fuga formou-se sem grande oposição por parte do pelotão (até porque se encontrava quase todo a urinar na beira da estrada), mas a margem nunca foi grande, tal era a ansiedade no pelotão, que contava com diversas mudanças de velocidade, que funcionavam como tentativas de partir o pelotão. Benjamim Thomas foi o homem da fuga que levou de vencida a primeira contagem de montanha.

Nos quilómetros seguintes, alguns pontos dignos de nota: Um mau dia para os contrarrelogistas, já que Filippo Ganna e Stefan Bissegger registaram os dois primeiros abandonos desta edição; Thibau Nys também foi conhecer o alcatrão francês, mas sem consequências de maior; Lenny Martinez foi dropado (viria a perder quase 10 minutos) e confirmou assim que não mentia quando dizia que o objetivo não passava pela GC; a fuga foi apanhada e chegava o sprint intermédio, onde Milan levou a melhor, seguido de Coquard, Girmay e Philipsen — o principal destaque aqui foi para a ausência de Tim Merlier da luta; a fuga voltou a formar-se, com Benjamim Thomas e Mattéo Vercher, que viriam a lutar pelas bolinhas no empedrado de Mont Cassel, onde Thomas voltou a levar a melhor num sprint louco que acabou...com os dois no chão.

Daqui até final foi a loucura. A tensão sentia-se facilmente no pelotão. A qualquer momento, a corrida podia partir e foi isso que aconteceu quando, numa curva a 17 quilómetros do fim, Edoardo Affini e Jonas Vingegaard (sim, o próprio) colocaram o pé no acelerador. A Alpecin, vendo Tim Merlier e Jonathan Milan cortados, deu continuidade à iniciativa e, estava visto, a primeira etapa do Tour não acabaria sem existirem diferenças reais na GC. Remco Evenepoel, Primož Roglič, Florian Lipowitz e, infelizmente mas não de forma surpreendente, João Almeida ficaram cortados, vindo a perder 39 segundos no final para o grupo principal, onde se encontrava o inevitável Tadej Pogačar, Enric Mas (muito bem conduzindo pelo eterno Nélson Oliveira) e Ben O'Connor no que aos homens com ambições de GC diz respeito. Quanto a quem ambicionava a etapa, a Alpecin deu uma masterclass e estava representada em peso, tendo como maior adversário Biniam Girmay.

Chegado o quilómetro final, o comboio da Alpecin não deu quaisquer hipóteses. Mathieu van der Poel (num novo papel, como penúltimo homem) deixou Kaden Groves (novo lançador de Philipsen) na frente do pelotão com cerca de 500 metros para o final, o australiano fez o seu sprint até à entrada dos 200 metros finais e ai, colocado na perfeição, Philipsen rematou o trabalho sem problemas e tornou-se o primeiro camisola amarela da 112.º edição do Tour. Biniam Girmay e Søren Wærenskjold foram quem mais de "perto" viu a vitória do belga.

Que trabalho de equipa. (foto: Die Zeit)

O percurso

209 quilómetros é duro só por si, sobretudo depois da intensidade vivida na véspera. Se adicionarmos a isso as dificuldades presentes ao longo de todo o dia, num percurso que sobe e desce de forma quase incessante, sabemos que podemos ter espetáculo. Apesar de já haver muita colina antes, o primeiro ponto de tensão e de maior probabilidade de ataque dá-se a 30 quilómetros do fim, quando os ciclistas abordarem o Côte du Haut Pichot (1.1km a 9%). Seguem-se 20 quilómetros planos que nos levam à combinação final, e potencialmente decisiva, desta etapa. Na entrada para os dez quilómetros finais temos o Côte Saint-Étienne-au-Mont (1.1km a 9.4%) e o Côte d'Outreau (0.8km a 8%) a convidar os atacantes a fazerem-se à vida. Segue-se uma descida curta que nos deixará no quilómetro final, também ele a subir, rumo a Boulogne-sur-Mer.

Nota para o tempo, que não se espera solarengo, e para potenciais novas mexidas provocadas pelo vento.

Lauwin-Planque — Boulogn-sur-Mer (209km)

O que esperar

Eu espero uma e só uma coisa: lembrar-me das épicas batalhas flandrianas entre Mathieu van der Poel e Tadej Pogačar. São hoje os dois ciclistas mais fortes neste tipo de terreno, são hoje (para mim) os dois ciclistas mais espetaculares quando se colocam em cima de uma bicicleta e são hoje (para mim) os dois melhores ciclistas da atualidade. Por isso, um duelo entre eles é, naturalmente, muito bem vindo.

Antes das decisões finais, espero uma fuga com o Benjamim mas sem grande esperança. A altura das fugas, nesta primeira semana, chegará, mas não já. Alpecin sabe que é dia de alimentar a sua estrela maior e de lhe ceder a Maillot Jaune, por isso vamos diretos ao quimporta.

Eu acredito que a luta será feita "apenas" nos dez quilómetros finais, não menosprezando a hipótese de alguns aventureiros, sabendo que não podem chegar ao final com os nomes acima citados, tentarem ganhar vantagem com ataques mais longe, mas aí, Alpecin e talvez até UAE, manterão tudo sob controlo. A questão que sobra é quem irá abrir as hostilidades? Pode ser um Axel Laurance, à la Dauphiné, mas entre os big boyz, acredito em Mathieu van der Poel logo em Saint-Étienne. E já sabemos, quando ele mete os watts todos na estrada, há poucos que podem ambicionar seguir. Pogi será um deles, Ving e Remco tentarão, Wout talvez também. Outros outsiders tentarão a sua sorte e o mais provável é, com mais hesitação ou menos hesitação, maior ou menor quantidade de ciclistas, que se forme um pequeno grupo na frente para disputar, ao "sprint", a vitória na etapa no último quilómetro. E aí, sprints explosivos em subida, não há pai para MvdP.

Já não se vê MvdP de amarelo desde 2021, ano em que também venceu a sua única etapa no Tour. (foto: Sky Sports)

Favoritos

Mathieu van der Poel — Está em forma. As subidas não são duras o suficiente para alguém o colocar em dificuldades. Quer manter a amarela em casa. É o seu momento e não o pode desperdiçar. A meu ver o seu maior adversário será o seu próprio favoritismo, que pode fazer com que não receba muita colaboração, acabando numa situação delicada como aquela a que assistimos na primeira etapa do Dauphiné.

Tadej Pogačar — É Pogačar e a etapa não é completamente plana? Então é favorito. O melhor puncheur do mundo é dos poucos que consegue responder a MvdP e não gosta de deixar passar oportunidades de levantar os braços. Se distanciar Ving com a sua explosividade, trabalhará com MvdP até à meta e perderá no sprint. Se Ving conseguir responder, provavelmente jogará poker com MvdP e aí pode realmente batê-lo ao sprint.

A não perder de vista

Thibau Nys — Dos poucos, muito poucos, que pode conseguir responder aos ataques dos acima citados e depois ainda lutar com eles no sprint. Isto em teoria, porque na prática ainda não o demonstrou perante concorrência deste nível.

Biniam Girmay — Numa eventualidade de uma corrida menos atacada nas duas subidas que antecedem o final, o último quilómetro é perfeito para ele. Precisa que os principais galos não ataquem (improvável) ou que depois de atacarem se ficam a entreolhar (não assim tão improvável).

Primož Roglič — É um bom terreno para o bom e velho Roglão. Se ele ainda existir, pode usar a sua frieza para tentar enganar os favoritos. Nunca descartar este senhor, já aprendi essa, o homem tem 7 vidas.

Julian Alaphilippe — Não podia não o colocar aqui. Há uns anos, seria o favorito absoluto. Hoje é uma miragem a sua vitória, mas os fãs do panache, que eu encabeço, nunca deixam de acreditar.

Alex Aranburu — Gosta muito disto e pode aproveitar algumas hesitações para um late attack mortífero.

Oscar Onley — Está a andar bem e se na alta montanha deverá ter dificuldades, aqui está como peixe na água.

Kévin Vauquelin/Romain Grégoire — A armada francesa tem legitimas esperanças de um bom resultado aqui, com os seus dois puncheurs de excelência. Precisam de sorte e de ser astutos para vencer, mas andar pelo top-5 é perfeitamente possível.

Apostas falso plano

André Dias — Boulogne-sur-mer? Esqueçam, vai ser Champagne-sur-Grégoire.

Fábio Babau — Quinn Simmons.

Henrique Augusto — Mathieu van der Poel.

O Primož do Roglič — Remco remca para a vitória.

Miguel Branco — Van der Poel. Se Pogi deixar.

Miguel Pratas — Vou mudar a minha para: Joe Yellow Blackmore.

Rogério Almeida — MvdP de jato privado.