Antevisão Etapa 20 — Giro d'Italia

Foi no sterrato que Del Toro chegou à Rosa e será no sterrato que dela se despedirá. Finestre é épico e não espero menos do que isso amanhã.

Antevisão Etapa 20 — Giro d'Italia
Giro d’Italia

Rescaldo da Etapa 19

Uma etapa que desiludiu e que fez adiar todas as decisões rumo ao último dia a sério.

A formação da fuga levou 33 ciclistas para a frente de um pelotão que nunca lhes deu muito tempo. Nenhum ciclista perigoso para a GC estava na frente mas havia uma série de nomes que poderiam vir a ser úteis aos seus lideres, sobretudo 2 EF e 3 Visma.

A verdade é que as subidas foram passando, os 5000 metros foram-se acumulando, mas a ação atrás parecia muito limitada. A espaços, houve demonstrações de intenções por parte da EF, Red Bull e Visma mas nunca nada que assustasse o poderio da UAE. Eu queria destacar este ponto: a UAE, apesar dos abandonos de Ayuso e Vine, continua a exercer um domínio incrivel nas montanhas. Hoje teve 4 homens com Del Toro quando o grupo já não passava das 15 unidades e nenhuma outra equipa podia contar com mais de 2 elementos. Neste particular, destaque para Rafal Majka. Que exibição e que Giro. Sempre lá, o fiel escudeiro sem ambições de geral nenhumas com que qualquer líder sonha.

A história da fuga e da vitória na etapa começou a definir-se na subida para Pantaléon, quando Antonio Tiberi, Carlos Verona e Nicolas Prodhomme se destacaram dos seus colegas de aventura e se isolaram para o resto da etapa. Já no Col de Joux, foi Prodhomme quem, sentindo o perigo do pelotão a aproximar-se, se foi embora para já não mais olhar para trás. Chegou a ter o grupo principal a 30 segundos mas, cruzado o topo da montanha, o ritmo atrás abrandou, a diferença aumentou e ficou sentenciada a vitória em etapa. Grande mês para o francês que se tinha estreado a ganhar na carreira nem há um mês na Volta aos Alpes.

No pelotão, Carapaz ainda testou na Col de Joux mas com pouca vontade e tudo se reagrupou. Na mais suave subida final, o equatoriano voltou à carga. E aí apenas Isaac del Toro o conseguiu seguir, voltando a mostrar que ou é na alta montanha ou nem vale a pena tentarem apertar com ele.

Hoje faltou equipa às equipas que querem destronar Del Toro para o tentar colocar em dificuldades. E a UAE controlou a seu gosto a etapa, resultando nesta desilusão de um dos dias mais duros deste Giro que tão espetacular tem sido.

Quem não arrisca não petisca. (foto: X Le Gruppetto)

O percurso

Um inicio muito plano dificultará a formação da fuga, que deverá demorar muito a formar-se, já que é a última oportunidade para grande parte do pelotão vencer uma etapa. Uma pequena lomba é a única dificuldade de relevo antes de chegarmos aos 40 quilómetros finais desta Volta a Itália.

Depois? Depois vem isto. Palavras para quê? São os 18 quilómetros mais duros da prova, o cansaço acumulado já é gigante e as diferenças deverão ser astronómicas. Importa recordar que os últimos cerca de 4 quilómetros são em sterrato, aumentando ainda mais a dificuldade da subida.

A organização tomou esta interessante decisão de não terminar a subida na Finestre. Os ciclistas ainda terão de ultrapassar Sestriere: uma subida que começa de forma bela, com falso plano, mas que ainda pica um bocadinho no final, com 2 quilómetros a rondar os 7%. Depois de passar a Finestre é quase como ir a descer, mas pode trazer-nos muita emoção e jogos táticos se a Rosa estiver presa por segundos.

O que esperar

Pouco quero saber da fuga, da formação da mesma, da luta pelo top-10, top-5 ou pódio. Amanhã está em jogo a razão pela qual 200 ciclistas arrancaram na Albânia e pela qual há três semanas estamos sentados no sofá a acompanhar os desenvolvimentos da corrida. A Maglia Rosa decide-se amanhã e já há muito não chegávamos a um último dia com a corrida tão aberta. Portanto, esse é o foco desta antevisão.

Comecemos pelo inicio.

Quantos candidatos ainda há? Dois à cabeça: Isaac del Toro e Richard Carapaz. Mais alguém tem hipóteses? Simon Yates não está assim tão longe. E Derek Gee, eu sei lá, este Giro já me deixou boquiaberto algumas vezes.

Onde se dará a ação? A etapa está desenhada de forma a obrigar as diferenças a serem feitas na Finestre. É ai que a corrida explodirá, com mais ou menos ritmos impostos pelas equipas. A dureza é tanta que eu só consigo imaginar que os últimos quilómetros sejam uma verdadeira cronoescalada com cada um por si. Mas a verdade é que, depois de concluído o monstro, ainda existem 30 quilómetros pela frente, pelo que se as diferenças não forem muito grandes, poderemos ter o cenário ideal com os diversos candidatos espalhados pela estrada a discutir ao segundo a vitória na prova. Tudo de cronómetro na mão, isso era o sonho.

Como se dará a ação? Até aqui não foi difícil responder às questões, esta já é mais puxada. Eu acredito mais uma vez numa fuga grande, com alguns potenciais colegas dos nomes acima citados, mas a dificuldade da Finestre é tanta que não vejo nenhum deles sobreviver. Ou seja, não contam para o pós-Finestre. Aí terá mesmo de ser cada um por si. Na subida propriamente dita, acredito que a EF vá ser a equipa a colocar o pé no acelerador.

Carapaz não tem nada a perder: não corre para o pódio e quando as pendentes são altas tem mostrado ser o mais forte. E acredito que até pode manter a equipa toda junta, para fazer uma entrada na subida "à morte" e atacar de longe, talvez a uns 10 quilómetros do cume. Tem de se certificar que a corrida é dura o maior tempo possível, porque isso o favorece. Aquando deste ataque, vai manter o pé no pedal até ao fim e aí as cartas estão nas mãos de Isaac del Toro.

O mexicano tem duas opções: ou tenta responder na roda do equatoriano (má ideia, in my opinion) ou usa Majka/Yates até ao limite, gere as suas forças e tenta chegar ao topo o menos longe possível. Se estiver a menos de 1 minuto e meio, estará a menos de 45 segundos na geral virtual e na descida + subida a Sestriere poderá ainda ter uma chance de recuperar a Rosa. Simon Yates e Gee deverão fazer a sua corrida e eu penso que não vão correr para ganhar, mas sobretudo para o pódio.

Sendo assim, prevejo um duelo Carapaz vs Torito subida acima. E acredito numa vitória (larga) de Carapaz rumo ao seu segundo Giro d'Italia.

Mesmo que isto aconteça, o que del Toro fez neste Giro já não será esquecido e se não ganhar agora, ganhará em próximas oportunidades. O talento, o estilo e a ousadia de campeão. Está tudo lá.

É sentar e desfrutar. Amanhã promete.

Assim segue o top-10 para a etapa decisiva. (foto: X NBC)

Favoritos

Richard Carapaz — Eu acho que é ele que vai ganhar. Amanhã a estrada mete todos no sítio e o sítio de Carapaz quando a pendente aumenta, nesta edição do Giro, tem sido na frente. Já ganhou o Giro, já fez pódio em todas as grandes voltas, pelo que não terá nada na mente que não a vitória. Correrá riscos se forem necessários, ao atacar cedo ou a descer vertiginosamente. No fim, acredito que alcançará a glória.

A não perder de vista

Derek Gee — Tem vindo em crescendo. E no meio de tanta instabilidade, imprevisibilidade e marcação entre os 3 primeiros, poderá surpreender.

Isaac Del Toro — Se depois de ter começado este Giro como 3.º ou 4.º líder, se depois de ter mostrado fragilidades e respondido de forma brilhante, se depois de tudo isto cala os doubters (eu incluindo) vence a etapa rainha do Giro, eu passo a aceitar as comparações com o outro rapaz.

Egan Bernal — Era bonito. Tinha de gerir muito bem o esforço e apresentar-se melhor do que temos visto nos últimos dias. Mas se há alguém que é capaz de fazer coisas especiais é Bernal.

Romain Bardet — Era bonito. La Dernière Danse.

Lorenzo Fortunato — Entre os homens das fugas, tem parecido o mais forte trepador. Por isso se o pelotão for a passear até à subida e der 10 minutos à fuga, deverá ser o principal candidato a conquistar uma vitória que já merece.

Apostas falso plano

André Dias — Se o Prodhomme consegue, o Pietrobon também.

Fábio Babau — Estou no Lisboa ao Vivo.

Henrique Augusto — Richard Carapaz, vencedor do Giro 2025.

O Primož do Roglič — Del Toro larga a Carapazça.

Miguel Branco — Carapaz armado em Finestre.

Nuno Gomes — Eu num delirio cheguei a pensar Bernal para a etapa porque ninguém quer saber dele.

Rogério Almeida — Gee, Gee; Assim você me mata; Ai, se eu te pego; Ai, ai, se eu te pego.

Miguel Pratas:
Chamava-se GeeGee
Vestia de organdi
E dançava (dançava)
Dançava só pra mim
Uma dança sem fim
E eu olhava (olhava)