Antevisão Etapa 20 — Vuelta a España

Faça-se história.

Antevisão Etapa 20 — Vuelta a España
Vuelta a España

Rescaldo da Etapa 19

Ao contrário do que aqui o vosso amigo previu, tivemos uma etapa sem uma fuga louca cheia de roladores possantes. A fuga do dia formou-se sem grande oposição e, desde cedo, deixando claro que não iam contar para o totobola.

Nos últimos 50 quilómetros vimos algumas tentativas de abanicos, o João ainda chegou a andar cortado por pouquíssimo tempo, mas abriu a pestana e depois não mais deixou a frente. Acabou por ter um dia relativamente tranquilo de onde há apenas a lamentar os 4 segundos que Vingegaard conquistou, sem contestação, no sprint intermédio, em mais uma "lição" da Visma à UAE.

Chegados ao sprint final, tivemos a batalha habitual e o desfecho habitual. Muita gente a querer fazer comboios – já que comboios propriamente ditos não existem nesta Vuelta – mas à entrada para o último quilómetro, a Alpecin iniciou a sua masterclass: deixou Philipsen na posição perfeita e o melhor sprinter desta prova não deixou créditos por mãos alheias, faturando pela 3.ª vez na corrida.

Mads Pedersen fez 2.º, carimbando a sua camisola verde e Orluis Aular deu continuidade à sua grande época, fechando na 3.ª posição.

Vão 3 para o Disaster. (foto: TNT Sports)

O percurso

Chegamos então ao final da Vuelta. Ao dia de todas as decisões, ao dia de todos os sonhos e ao dia em que as pernas colocarão, definitivamente, cada um no seu lugar. Ao contrário do que tem sido habitual nesta Vuelta, a dureza não se concentra apenas na fase final da etapa, já que contamos com 3 contagens de montanha nos primeiros 60 quilómetros. Depois segue-se uma fase de cerca de 50 quilómetros, antes de chegarmos à primeira grande dificuldade do dia.

Puerto de Navacerrada já é um aperitivo interessante, embora incomparável com o que se apresentará depois diante dos ciclistas. São 7 quilómetros a 7.5%, seguidos de uma descida e um vale que nos conduzirá até ao prato principal. E que prato.

O aperitivo...

O regresso tão ansiado e antecipado da cruel Bola del Mundo. A última vez que por aqui a Vuelta passou já foi em 2012, com vitória de Denis Menchov e o top-10 separado por 4 minutos, para que se perceba bem as diferenças potenciais nesta subida.

Os primeiros 9 quilómetros já são muito duros, a rondar os 7.5% de inclinação média, mas o que torna esta subida tão implacável são os últimos 3 km. Sempre acima dos 2000 metros de altitude, as pendentes nunca baixam dos 11% e ainda se soma a dificuldade de um piso que não é o habitual alcatrão bem cuidado. Aqui, quer se queira quer não, a festa dá-se e as pernas gritam.

... e o buffet para os glutões.

O que esperar

Eu espero um dia a full gas, não há outra opção. A UAE brincou durante toda esta Vuelta – talvez por não acreditar realmente na possibilidade de João Almeida levar esta Vuelta de vencida – mas agora está na hora de, finalmente, alinhar as tropas. A distância para a frente são apenas 44 segundos, pelo que terão de acreditar e endurecer o dia o mais possível, de forma a aumentar o potencial de diferenças. E procurando por uma fissura na armadura de Jonas Vingegaard, armadura essa que não parece, neste momento, tão inquebrável como se poderia pensar.

A equipa deverá inclusivamente querer colocar as bonificações em jogo, pelo que contem com muito Bjerg, Novak e Ivão na frente do pelotão durante o dia, a não deixar a fuga ganhar muito tempo. Em Navacerrada, deverá ser feita a fase inicial do endurecimento, talvez com Soler a entrar em ação; e depois, na chegada à Bola del Mundo, Jay Vine, Juan Ayuso (Ayusão, vá lá, porra) e Grosschartner farão o resto dos estragos.

É essencial para as aspirações do João que a equipa não lhe falhe desta vez. Que não o deixe sozinho contra 4 Vismas, e que parta o pelotão ao ponto do João já não precisar de atacar, mas apenas de impor o seu ritmo diabólico em busca de que Vingegaard perca a roda. O cenário ideal, na minha opinião, seria deixarem o João à entrada dos últimos 4 quilómetros (os mais duros) já com um grupo muito restrito, de 5/7 unidades e, a partir daí, é mano a mano nas pendentes acima de 10%. Não imagino o português a atacar a sério antes; as pendentes penalizam mais a iniciativa e o trecho final é duro o quanto baste para se ir buscar os segundos necessários.

É um dia em que o João busca a história para o nosso país. Nunca foi tão possível vencer uma Grande Volta como é neste momento e ele sabe-o: sabe que é a oportunidade para a qual se tem preparado e lutado a vida toda. O João vai lutar, isso é certo. E vai arriscar se necessário. Não tem nada a perder. É empurrarmos daqui com o que pudermos para que ele tenha um dia super e para que Vingegaard não esteja – como não tem parecido estar – no seu top. Se estas 2 premissas se juntarem, 44 segundos podem desaparecer num instante e nós podemos ir todos para o Marquês embebedar-nos em honra ao Bota Lume.

É amanhã, é amanhã o dia de rumar à história. Bota Lume.

Anda João, rebenta com ele. (foto: MSN)

Favoritos

João Almeida — É o vai ou racha. Tem que ir com tudo, o pódio está garantido e tem de perder o medo de rebentar. Para se ganhar coisas grandes, para se entrar na história, é preciso ser arrojado. Vai com tudo João, sem medos, e serás feliz. Se não fores, ao menos sabes que fizeste tudo o que estava ao teu alcance e podes começar a preparar-te para a próxima com a consciência tranquila.

Jonas Vingegaard — Há rumores que está doente e as atuações em Morredero e no contrarrelógio não inspiram realmente muita confiança. Ainda assim, é Vingegaard: é em teoria o melhor trepador presente e, se puder, irá aproveitar para levantar os braços na etapa que pode ser de consagração para si. Esperemos que não.

A não perder de vista

Jai Hindley — Jai Hindley pareceu talvez o mais forte no Morredero. É um voltista nato que aparece a voar nas últimas semanas das grandes voltas. Ele e a sua equipa devem ajudar a UAE no objetivo de endurecer ao máximo a corrida, pois o australiano encontra-se a apenas 39 segundos do pódio de Tom Pidcock e é, em teoria, um melhor trepador que o britânico. Lembrar ainda que tem Pellizzari, atual 5.º classificado, na equipa e que foi numa etapa 20 (Giro 2022) que fez as diferenças necessárias para sair vencedor dessa prova, quando obliterou Carapaz do Passo Fedaia.

Felix Gall — Quando saca grandes exibições, saca grandes exibições mesmo, este homem que já ganhou no Col de la Loze. Não tem muito a perder e, sendo um dos melhores trepadores puros em prova, deverá andar ao ataque na ambição de subir na Geral e, quem sabe, lutar pela etapa.

Antonio Tiberi — Caso a UAE guarde as munições todas para as duas subidas finais, a etapa pode acabar por ser conquistada pela fuga. Mesmo a partir da fuga, tem de ser um grande trepador a vencer e Tiberi encaixa nessa categoria, precisando desesperadamente de salvar esta Vuelta à qual chegou cheio de ambição mas da qual tem passado completamente ao lado.

Egan Bernal — Foi bonito vê-lo vencer, mas ficou aquele sabor agridoce de uma etapa encurtada e uma vitória esquisita. Se vencesse aqui sim, seria a grande vitória que o grande Bernal merece.

Mikel Landa — Landismo vive sempre. Chegou com Bernal na esquisita etapa vencida pelo colombiano, mas acabou por não conseguir discutir a etapa. Para ter hipóteses, precisava que a subida final tivesse tido lugar. Ainda assim, mostrou ótimas pernas, que é o critério número um para poder sonhar com vencer na Bola del Mundo.

Apostas falso plano

falso plano — BOTA LUME CARALHO VAMOS A ELES ATÉ OS COMEMOS ANDA JOÃO.