Antevisão Etapa 21 — Tour de France

O verdadeiro Tour foram as lombas que subimos pelo caminho.

Antevisão Etapa 21 — Tour de France
Tour de France

Tudo o que é bom chega ao fim. Quer dizer, quase tudo. O domínio absoluto de Tadej Pogačar sobre toda a gente em duas rodas — e sim, incluindo algumas motorizadas aqui — parece não acabar tão cedo. Será que isso é bom? Será que isso é uma seca? Será que isso é o fim do ciclismo como o desporto apaixonante que conhecemos ou isto é tudo um exagero de quem escreveu isto às 3 da manhã? Deixo ao critério de quem lê.

Uma coisa é certa: acaba mais uma edição do Tour. E mesmo com um resultado previsível, foram três semanas de uma corrida vibrante, apaixonada e com história quase todos os dias. E daquela vez que Michael Woods pediu para cagar numa autocaravana à etapa 10, lembram-se?

É por corridas destas que amamos o ciclismo. Venha daí o champanhe que a ressaca dura pouco. Há um Tour feminino mesmo a chegar.

Rescaldo da Etapa 20

Fugiram muitos. Ganhou o Groves.

Por esta altura, já só queremos chegar ao fim, malta.

O percurso

Este ano, segurem bem essas flûtes. Esqueçam aquela passadeira final de último dia até Paris, que a etapa promete ter história. São 132 km que abrem com um mini-paredão, só para lembrar ao Thibau Nys que era nestas que ele devia ter atacado.

Passagem em Versalhes e entrada em Paris perto do quilómetro 50 para um circuito de três voltas dentro da cidade. Ainda temos um sprint intermédio a meio da etapa, de inclinação meio falsoplanista, apenas no caso dos homens rápidos quererem picar o ponto na despedida.

Este circuito não serve só para ver montras: tem três no alto de Montmartre, aquela subida que ficou conhecida na prova de estrada dos Jogos Olímpicos de 2024. Sim, é aquela onde as ruas estavam cheias de gente e que deu fotografias fantásticas para mostrar aos netos. É a festa do Tour em pleno.

Descida em direção aos Champs-Élysées e até para o ano.

Mantes-la-Ville - Paris (Champs-Élysées) (132.3 km)

O que esperar

Tiramos já o óbvio da frente: não dá para mudanças na Geral. A não ser que o Pogi se enfrasque de Don Pérignon antes de entrar em Paris e fique encostado a um plátano. E mesmo assim, acho que o pelotão esperava que lhe passasse a borrasca.

De resto, o mais provável é termos algo parecido ao que aconteceu nos Jogos Olímpicos: uma fuga simpática que ganha alguma distância. As equipas mais flop mandam-se para a frente — ficam já a saber as minhas: Intermarché, Cofidis, Astana, Lotto. Entrados no circuito, é sempre a meter ritmo para largar os sprinters, mas não demasiado para causar cortes esquisitos na GC, que isso também é falta de chá.

As últimas subidas a Montmartre são as que prometem: tudo o que é puncheur vai tentar subir isto o mais rápido possível. E, de preferência, largando os outros para a descida. Ou tens grupo pequeno de pernistas a formar-se na frente; ou o pelotão deixa tudo para a subida final. E que o par de gémeos mais forte ganhe.

(Nota do Autor: As previsões abaixo partem do princípio que homens no top-10 da GC não tenham grande interesse em ir buscar esta etapa.)

Vai ser muito disto, mas para aí com o Narváez na frente. (Foto: The Local France)

Favoritos

Valentin Madouas — Quiz: um francês não vence a última etapa do Tour desde 2003, com Jean-Patrick Nazon. É uma grande pressão, mas se o Valentim engata a mudança, não há pai para ele (fora da GC).

Julian Alaphilippe — Já leram a crónica que o Henrique escreveu sobre ele? Depois de lerem, é impossível não sonhar com isto. Allez, LouLou!

Wout van Aert — Não foi um Tour tímido, nós é que estamos mal habituados. Depois de três top-5, vai à procura da vitória. Haja algum Visma no topo do pódio.

A não perder de vista

Biniam Girmay — A subida é dura, mas não é assim tão dura. Passando algum sprinter de topo, é o pai Bini.

Arnaud de Lie — Vá, este também pode aguentar. Usar em caso de chegada em grupo reduzido.

Ben Healy / Neilson Powless — Para fechar um Tour muito competente da EF, o fella e o seu partner vão querer molhar o bico com um ataque de meia distância.

Tadej Pogačar — E quê? Vão-me dizer que não conseguia?

Remco Evenepoel — Não o percam de vista. Nós também não.

Apostas falso plano

André Dias — Julian Alaphilippe, para fechar em grande. Agora é que ele festeja a sério.

Fábio Babau — Milanada.

Henrique Augusto — Mohoric.

O Primož do Roglič — Tobias Lund Andresen.

Miguel Branco — Em Montmartre vence Madouas.

Miguel Pratas — Monsieur Pogačar.

Nuno Gomes — Ainda vai a tempo, Wout van Aert?

Rogério Almeida — Quando a UAE é pra todos / Quando há Pogačar é pra todos / Quando ele come há pra todos / Ficam todos gordos.

Até para o ano!