Antevisão Etapa 4 — Tour de France
Depois de um Jasper disaster, teremos nova alegria para a Alpecin? Ou a GC vem estragar a festa?

Rescaldo da Etapa 3
Estão a ver aqueles filmes que, lá para o meio, têm uma cena tão importante que chegas ao final e o resto soa mais fraquinho? Foi um bocado o filme da etapa 3 do Tour.
Etapa chata como tudo ao princípio, mas o momento de maior drama chegou no sprint intermédio em Isbergues. Os candidatos à camisola verde estavam lá com os seus comboios. Como nos outros dias, pelotão nervoso. Muitos toques. Muita Tesson no grupo.
Surge o comboio da Intermarché com três elementos. As equipas lutam para ganhar posição. Antes da arrancada, Bryan Coquard tenta um encosto em Laurenz Rex para ganhar posição. Mas ninguém se mete com um cão-polícia. Rex e Coquard baralham-se, a bicicleta de Coquard sai disparada para a esquerda. Bate em quem vem atrás. O homem de trás cai com aparato. Fica estendido. Demora a levantar. Em termos técnicos, esbardalhou-se todo.
Azar da Alpecin, azar do Tour: esse homem era Jasper Philipsen. Abandonou a corrida. Disaster.
O pelotão acalma e a UAE não resiste a limpar tudo o que pode. Tim Wellens parte sozinho para apanhar um ponto de montanha e a "camisola varicela" para amanhã. Há quem adore andar às bolinhas.
Pelo caminho, mais uma queda já dentro dos 5 km finais, com Remco Evenepoel a ir ao chão (e a precisar de ir à bruxa).
Quilómetro final. Os comboios de sprint alinham-se. A Lidl e a Soudal vão lançadas na frente. Nos últimos 300 metros finais, Cees Bol cai e leva consigo Penhoët, Jeannière e um desgostoso Arnaud de Lie, que assim perde o seu sonho de terminar no top-40 da etapa.
Jonathan Milan arranca, Tim Merlier responde. Não há watts que aguentem estes dois. A chegada foi em photo finish, resolvida em empurrão de bicicleta. Desta vez foi para Merlier, com Milan em 2.º lugar. Um pouco atrás, o pódio fecha com Phil Bauhaus. Søren Wærenskjold e Pavel Bittner no Top-5, a dar alegrias e uns pontinhos UCI às suas equipas.
Nas camisolas, a amarela continua com Mathieu van der Poel. A verde passa para Jonathan Milan e vamos ver se a larga até ao final.
O percurso
174 quilómetros de etapa, com um início bom para pôr o trabalho em dia no escritório. Perfeito.
Só precisam de ligar a sério nos 50 km finais, com cinco subidas categorizadas (sim, se a fuga chegar longe, pode dar novo líder da montanha). No último paredão – a Rampe Saint-Hilaire – temos 800 metros a uma média de 10.3%. Diz que há trechos a chegar aos 17%. Vai doer. Haja pernas.

O que esperar
Depois de um Jasper Disaster, espera-se um dia de sobe-e-desce, mesmo à medida de puncheurs arrojados e homens da GC que gostam destas andanças. Pelotão a partir logo em Bonsecours e ataques a surgir nas últimas duas subidas. Estes ataques tanto podem vir de ciclistas à procura de um dia de glória, como das principais equipas para a GC, em busca de apanhar algum favorito distraído. Se eu fosse a Visma, tentava repetir a fórmula da etapa 2 e puxar um bocado aqui.
O mais provável? Grupo pequeno com os limpa-paredes do costume e os favoritos da GC. E esperemos que sem nenhum outro disaster pelo meio.
(Momento de reflexão do autor: A quantidade - e sobretudo a dimensão - das quedas neste Tour devia levar a organização a repensar mesmo este modelo de equipas tão grandes. Já são imensas e nem sugiro que as reduzam. Mas numa prova como o Tour, a redução de um ciclista por equipa tornaria este pelotão mais seguro, menos nervoso. Se a ideia for que os ciclistas se mantenham seguros em cima da bicicleta e com menos quedas para audiência televisiva, claro. Isso é outra conversa. Com os próximos dias a terem chegadas tão estreitas, esperemos que haja mais cabeça fria.)
Favoritos
Mathieu van der Poel — O grande favorito (de novo) vai querer trazer isto para uma chegada de grupo pequeno, onde possa meter a potência no final.
Tadej Pogačar — Todos os puncheurs odeiam este homem! Descubra porquê!
A não perder de vista
Jonas Vingegaard — Neste Tour, o Ving está a correr como o Pogi e o Pogi como o Ving. Parece aquele filme com a Lindsay Lohan das duas gémeas que trocam de corpos. Ataca e apanha-os distraídos, Jonas. Eu acredito.
Alex Aranburu — Chamem-me louco, mas se lhe dão uns metros em Saint Hilaire e se ele engata na descida... Adiós.
Romain Grégoire — Ele anda maluco por vencer uma etapa. Só precisa que ninguém dê conta dele.
Thibau Nys — Na queda no primeiro dia deixou-o meio partido. Mas a outra metade dá bem para escalar este paredão.
Apostas falso plano
André Dias — Pogačar. É mais forte do que ele.
Fábio Babau — Van der Poel, no seu novo jato.
Henrique Augusto — Mathieu van der Yellow.
O Primož do Roglič — Ving ataca no plano.
Miguel Branco — Mathieu van der Poel. Isto porque Pogi não consegue ganhar o ITT com uma samarra vestida.
Miguel Pratas — Quinn Late Attack Simmons.
Nuno Gomes — Emiel Verstrynge.
Rogério Almeida — Stage 2 repeat.