Antevisão Etapa 6 — Giro d'Italia

Em 2024, Kooij venceu em Nápoles. Há cidades que nos protegem. E há Mads Pedersen.

Antevisão Etapa 6 — Giro d'Italia
Giro d’Italia

Rescaldo da Etapa 5

Etapa com uma fuga a três (Davide Bais, Giosuè Epis e Lorenzo Milesi) e sem grande história até à quarta categoria de Montescaglioso (2.9kms @ 8.4%) a coisa de trinta quilómetros da meta. Foi aí que a UAE começou uma autêntica masterclass táctica. Aumentou o ritmo, fez descolar a maioria dos sprinters à excepção de Mads Pedersen — e o mesmo o camisola rosa, nos últimos metros, perdeu muitas posições no pelotão.

A descida foi feita a um ritmo interessante, houve alguns cortes, mas Pedersen teve sempre bem colocado. Já dentro dos últimos dez quilómetros, novas subidas não categorizadas colocaram em sentido toda a gente, inclusive alguns sprinters que tinham reentrado. Dentro dos últimos dois quilómetros, um muro puxadote, esticou o pelotão, na altura com Mathias Vacek na frente. O que gerou um momento caricato: Vacek puxava e Pedersen perdia muitas posições. No final dessa mini-subida, ninguém aumentou o ritmo, nomeadamente a UAE que tinha Del Toro nas primeiras posições do grupo. Seguiu-se uma ligeira descida, na qual Mads fez uma grande recuperação e viria a sprintar para a vitória, batendo Zambanini e Pidcock. Sim, é preciso ser um corredor de outro mundo, para conseguir alguns dos feitos que Pedersen já alcançou neste Giro. Mas também é preciso ter o consentimento das outras equipas para conseguir discutir este sprint em Matera. A UAE trabalhou muito nos últimos 30 quilómetros para rigorosamente nada. E a Q36.5 tinha obrigação de, pelo menos nesta última subida, ter feito qualquer coisa de diferente, nem que fosse um ataque de Pidcock à distância.

Assim não se tendo verificado, Mads Pedersen continua dono e senhor do Giro — e amanhã pode chegar à quarta vitória em seis etapas. E se continuam com medo, ainda fecha top-10 GC. O Amore é Infinito.

Isto é puro falso plano. ©La Press_News

O percurso

Chegamos então à maior etapa da edição em curso do Giro. 228 quilómetros que unem Potenza e a charmosa Nápoles (sou só eu, ou cada vez que digo ou leio "Nápoles" fico com mais fome do que anteriormente?).

Sobe-e-desce constante durante dois terços da tirada (sou só eu, ou cada vez que digo, leio ou escrevo "tirada" incorro no pensamento: os sinónimos de "etapa" estão a escassear), com uma segunda e uma terceira categorias pelo caminho, bem como várias subidas não categorizadas. A partir de Nola, a coisa de 60 quilómetros da meta, temos finalmente terreno plano e aí o pelotão entra em rota urbana, passando inúmeras localidades até entrar em autoestrada antes do acesso a Nápoles (pizza com guanciale e mozzarella de búfala?). Os últimos três quilómetros tem uma ligeira ascensão em empedrado, já dentro de Nápoles, mas nada de preocupante. A recta da meta faz-se com 900 metros em asfalto em boas condições e estrada larga: 9 metros. A chegada é na Via Francesco Caracciolo, uma espécie de marginal, junto ao mar, numa daquelas paisagens que o Giro sempre faz questão de nos oferecer. Perfeito.

228kms entre Potenza e Nápoles.

O que esperar

Ora bem, o início da etapa promete fogo-de-artíficio. A subida ao Valido Monte Romito vai servir para o início da movimentação da fuga do dia, que terá na descida o seu apogeu. Segue-se o primeiro sprint bonificado do dia, já em direcção ao primeiros pontos da montanha. Portanto, eu diria que as equipas interessadas podem ou lançar os seus homens rápidos e fazê-los descer depois ou tentar controlar as movimentações da fuga até ao sprint. Quer uma, quer outra, podem ser algo arriscadas, portanto, meter gregários na fuga para roubar pontos nesse sprint e, em simultâneo, tentarem integrar o grupo de homens que vai tentar disputar a vitória através da fuga, pode ser uma solução mais em conta.

Além desses blocos, os interessados na montanha devem integrar a escapada: Fortunato, Moniquet, Tonelli e Verre. Bilbao já acharia mais estranho, tendo em conta que há um líder para proteger e que há muitos pontos de montanha noutros dias. Apesar de uma etapa bastante acidentada na maioria do seu percurso, o final é plano, o que sugere discussão em pelotão compacto. Não excluo a possibilidade de vitória da fuga, dependendo, naturalmente, da composição da mesma e do compromisso das equipas dos sprinters no pelotão. Tendo em conta a extensão podem surgir ideias. Mas o sprint é o cenário mais evidente e, a meu ver, quase garantido. E Kooij vai ganhar, claro. Ou isso, ou ganha Enrico Zanoncello. Uma das duas.

Favoritos

Olav Kooij — Perder para o Casper van Uden não é um grande sinal. Uma das hipóteses de vitória já se esfumou, agora não há cá desculpas de o final ser técnico. É o mais rápido e o candidato número 1. Já agora: a sua primeira e única vitória em Grandes Voltas, aconteceu em Nápoles, no Giro 2024.

A não perder de vista

Mads Pedersen — O grande protagonista do Giro até este momento. Já só lhe falta vencer um sprint puro e duro diante de adversários mais rápidos do que este novíssimo candidato a top-10 final.

Kaden Groves — No papel, é um dos favoritos à ciclamino. Na estrada, ainda não saiu do papel.

Sam Bennett — Apesar de este ser um Bennett já longe dos seus melhores dias, quando brilhava na BORA ou na Quickstep, não deixa de ser um sprinter explosivo, que com um lançamento perfeito pode assustar Kooij.

Apostas falso plano

André Dias — Aular que se faz tarde.

Fábio Babau — Mads (para sempre) Pedersen.

Henrique Augusto — Fretin abre o livro.

O Primož do Roglič — Mads Pedersen. Giro o disco e toca o mesmo.

Miguel Branco — Mads Pedersen. Quem mais? Eu acho que ele ganha todas as etapas até ao final, tirando uma chegada em alto que oferece ao Mosca.

Miguel Pratas — Sai um Gerben Thijssen do fundo do tacho. Para desenjoar.

Nuno Gomes — Kooij.

Rogério Almeida — La prima fuga. Dorion Godon.