Antevisão — Tour de France
Tadej e Ving, já não há quem vos aTour. A moda agora é João Almeida.

Introdução
Abrir Google. Pesquisa: numerologia 112. "Em numerologia, o número 112 é frequentemente interpretado como um número angelical que indica mudanças positivas e a necessidade de se abrir a novas oportunidades. É chamado para abandonar padrões antigos e adotar uma perspectiva mais otimista, com foco em pensamentos e intenções positivas. Além disso, o 112 pode sugerir a importância de criar espaços harmoniosos, tanto físicos quanto emocionais, com possíveis transformações em casa ou na vida familiar." E a partir daqui está tudo dito, não é verdade? As palavras otimista, positivas, harmoniosos, angelical são bem o espírito da edição número 112 da Volta a França. Ou isso, ou a psicologia positiva é das coisas mais enjoativas e assustadoras do universo e mais vale chamar o 112.
Talvez seja isso: o INEM. Poderá ser caso para isso embora, claro, eu não esteja aqui a querer o mal de ninguém. Apenas reitero que podemos estar na presença de um Tour épico, inédito, impróprio para cardíacos ou fãs de Marc Soler. A verdade surge-nos mais límpida do que nunca: pela primeira vez em três anos, vamos ter os dois melhores voltistas do mundo à partida para o Tour a 100%, isto é, sem lesões que prejudicaram a sua preparação. Sem desculpas. Serão a estrada, a equipa, as pernas, a decidir este braço-de-ferro. Jonas Vingegaard vs Tadej Pogačar. E o resto é conversa.
E como temos tempo e espaço para tal porque este projecto é livre e não liga muito ao exagero de caracteres, diga-se que há muito para conversar. Não é apenas o embate que se perspectiva lindo, é a startlist de classe mundial, é o traçado maravilhoso — clássico, a recuperar montanhas que se notabilizaram nos anos 80, a recuperar o Mont Ventoux, a recuperar montanhas que se tornaram fantasmas na mente de Tadej Pogačar. E nesse caso sobra a pergunta: Ving partirá por cima psicologicamente ou Pogi quererá ajustar contas e por isso a sede é infinita? É o Tour, minha gente. Metam férias, metam baixa, não vão para muito longe de um ecrã.
É um percurso bem old school, que nos devolve subidas icónicas e que, pela primeira vez desde 2020, é integralmente em França. São 3320 quilómetros entre Lille e Paris, sem cruzamentos de fronteiras nem direito a Grand Départs no estrangeiro, é tudo dentro de portas. Qual Florença, Copenhaga ou Bilbao. E há outro factor interessante: um sprinter vai vestir de amarelo ao primeiro dia. Também há sprinters e muitos e bons: Milan, Philipsen, Merlier, Girmay, Arnaud de Lie. E sim, ter no Tour um embate entre os três primeiros desta lista deve ser encarado como um privilégio para quem gosta da modalidade.
Por último, porque para o fim deixo sempre o melhor, com licença, saiam da frente, pois, claro, a chapa 'tá quente, o nosso menino de oiro: João Almeida. O bota lume vem ao Tour pela segunda vez consecutiva e o ano passado foi um gregário a roçar a perfeição que acrescentou um quarto lugar na GC ao cardápio. Este ano nada mais importa: vai para o pódio? Claro que há muito mais coisas que importam, mas uma coisa parece inegável para os portugueses, onde eu tendo a incluir-me (e os restantes membros do falso plano também, imagino): a participação do João Almeida neste Tour já não é apenas sobre ajudar Tadej Pogačar. É sobre muito mais. É sobre o que alguém que venceu o que o João venceu, que está a andar o que o João está a andar, consegue levar da maior corrida de ciclismo do mundo. Sempre é para chamar o 112?

O percurso
Etapa 1 — Parece-me seguro afirmar que o primeiro camisola amarela vai ser um sprinter. Algo que não acontece desde 2020, ano em que Alexander Kristoff venceu em 2020. Os sprinters já mereciam. (Também encontraremos o primeiro líder da camisola das bolinhas.)

Etapa 2 — E aqui é bem possível que a camisola amarela mude. Boulogne-sur-Mer é uma chegada já bastante conhecida do pelotão internacional, embora não seja utilizada há algum tempo: em 2012, Sagan venceu na também etapa 3 do Tour; um ano antes, Sylvain Chavanel sagrou-se campeão francês de fundo na mesma localidade. Serve mais aos puncheurs que aos puros sprinters. Estou a pensar em Mathieu van der Poel, Wout van Aert, Thibau Nys, Alaphilippe e, claro, quem sabe, Tadej Pogačar?

Etapa 3 — Ao terceiro dia, mais um dia para uma chegada em pelotão compacto. Vitória número dois para Merlier? Ou Milan e Philipsen terão uma palavra a dizer?

Etapa 4 — Mais uma moeda, mais uma voltinha. Voltamos a entrar em terreno de puncheurs, com os tais nomes mencionados no texto da Etapa 2 como principais favoritos. E vejamos se gente da geral não quer meter o bedelho. Sublinho a passagem numa montanha com o nome de Jacques Anquetil.

Etapa 5 (ITT) — Primeiro grande momento de classificação geral. E, se nada de muito estranho acontecer nos dias anteriores, a grande oportunidade de Remco Evenepoel. Deve sair destes 33 quilómetros planos como líder da corrida, o que será uma estreia no Tour para o corredor belga.

Etapa 6 — Ora bem, cá está um dia muito interessante. Quase sem terreno plano, ou se sobe, ou se desce, por isso muito difícil de controlar. A fuga pode ter aqui uma oportunidade se houver consentimento por parte das equipas da geral (com Pogačar presente nunca se sabe). Acresce ainda o facto de me parecer mais um perfil com a cara de Van der Poel e, por isso, a Alpecin pode tentar controlar. Talvez o mais fácil fosse lançar o neerlandês para a fuga e ver quem lhe seguia os passos. Etapa com muitos cenários possíveis, seguramente. Afinal, estamos na Normandia.

Etapa 7 — Em 2021, numa etapa tirada a papel químico daquela que aqui observarmos, Van der Poel ganhou — e Pogačar foi segundo, chegando com Roglič e Kelderman, roubando dois segundos a Vingegaard. Vamos ver, porque com tanto Van der Poel nos dias anteriores, o esloveno pode estar cansado de não vencer. O neerlandês é seguramente o favorito, mas as peças do xadrez podem gerar outro desfecho. Dan Martin (2018), Alexis Vuillermoz (2015) e Cadel Evans (2011) foram os outros vencedores quando a meta coincidiu com o Mûr-de-Bretagne.

Etapa 8 — É na terra que viu nascer Jacky Durand que teremos a chegada da oitava etapa da Volta a França 2025. E apesar de um final em ligeira subida, talvez este possa ser mais um dia para os sprinters. Não é de excluir a intromissão dos puncheurs, uma vez que há rampas na última subida a 8%, mas de uma forma geral, não parece ser o tipo de dificuldade para impedir os homens mais rápidos de discutir a etapa, pelo menos todos os homens rápidos.

Etapa 9 — Aqui é sprint na certa.

Etapa 10 — Não é de uma dureza atroz, mas aqui a parada começa a subir. Falamos de 4500 metros de desnível positivo acumulado. E a subida de Puy de Sancy é curta, mas bem durinha: quase 8% de média durante pouco mais de três quilómetros. Não se fecha o Tour, mas vai dar para ver quem está bem. E logo no Dia da Bastilha, mes amis.

Etapa 11 — Depois do primeiro dia de descanso — que este ano surge a uma terça-feira porque na segunda é 14 de Julho — etapa com partida e chegada em Toulouse. Bem armadilhada no seu final, pode dar fuga, pode dar sprint para os que ainda estiverem com forças... Parece um dia engraçado antes da entrada nos Pirinéus.

Etapa 12 — TANTANTANTAN. O regresso do Hautacam. Primeira grande chegada em alto, primeira grande dificuldade. O início é plano, mas depois subem o Soulor e o Hautacam, que se bem se recorda, caro leitor, foi feito na edição de 2022 — nessa etapa 18 mortífera com Aubisque e Spandelles a antecederem o final no Hautacam — e onde Jonas Vingegaard espetou um minuto a Pogačar, num dia onde Van Aert fez uma das melhores exibições da sua carreira no auxílio ao líder. Vingegaança de Pogi?

Etapa 13 (ITT) — E a história volta a cruzar os destinos de Ving e Pogi em Peyragudes. Em 2022, o esloveno bateu o dinamarquês já perto da meta, num dia surreal de Brandon McNulty. Mas agora o cenário é outro: falamos de uma cronoescalada, e embora Peyragudes não seja a mais exigente das subidas que vão apanhar neste Tour, um contrarrelógio é sempre um esforço particular, é sempre cada um por si. A subida tem 8 quilómetros e antes disso há uma zona relativamente plana só para trocar as voltas aos favoritos e colocar dúvidas sobre a gestão de esforço. Etapa muito importante para as contas finais. Romain Bardet (2017) e Valverde (2012) também venceram aqui.

Etapa 14 — E o que dizer desta etapa louca? Tourmalet, Aspin, Peyresourde e final em Superbagnères, épico local de batalhas várias durante a década de 80. É uma réplica de uma etapa feita no Tour de 1986 (e outra muito parecida se fez em 1989) com esta sequência de montanhas e onde Bernard Hinault viria a atacar o seu colega Greg Lemond, mas foi com demasiada sede ao pote; viria a perder nesse dia quase 5 minutos, ficando apenas com 40 segundos de vantagem na GC. O norte-americano viria a vencer essa edição — tal como viria a vencer em 89; Laurent Fignon foi capaz de lhe roubar 12 segundos na chegada a Superbagnères, mas no final do Tour o americano venceu o francês por apenas 8 segundos na geral individual final em virtude de uma bela prestação no contrarrelógio final com chegada a Paris para o qual partiu 50 segundos atrás.
Diga-se que a ausência de Superbagnères (não é feita desde 89, nesse dia venceu Robert Millar sobre Pedro Delgado, já agora) tem uma justificação logística. As pontes sobre o Rio Pique, obrigatória neste percurso, não eram fortes o suficiente para a caravana do Tour, mas as mesmas foram entretanto intervencionadas para que tal pudesse suceder.
História à parte, este é um dia, seguramente, de se fazerem muitas diferenças. Segunda etapa com mais acumulado do Tour, falamos de 5000 metros.

Etapa 15 — Aqui uma etapa provavelmente para a fuga, de transição entre os Pirinéus e os Alpes. Os sprinters não vão conseguir chegar, por isso, a fuga terá aqui uma oportunidade rara antes do último dia de descanso.

Etapa 16 — Ah estiveram a descansar? Então tomem lá biscoitos. Depois do dia de descanso, etapa uniperto para o Gigante da Provença. O Mont Ventoux é sempre um espectáculo e é sempre um problema para muitos corredores. Neste dia 22 de Julho, subimos à Lua. E também aqui há história. É que no Tour de 2021, etapa 11, dia de outra exibição surreal de Wout van Aert, que venceria nesse dia, ultrapassou-se o Mont Ventoux e Vingegaard conseguiu descarregar Pogačar. É claro que nessa altura o esloveno tinha mais de 5 minutos de vantagem e, portanto, houve autorização para tal — e o dinamarquês viria a ser alcançado por Pogi, Carapaz e Uran já no último quilómetro, mas talvez tenha sido neste dia que surgiu o primeiro vislumbre de Vingegaard vencedor de Grandes Voltas.

Etapa 17 — Eis uma nova e possivelmente última tirada para os sprinters. Os que ainda cá estiverem, claro.

Etapa 18 — Voltamos a reencontrar-nos no La Loze. E não sejamos modestos, porque antes disso: Glandon e Madeleine. Uma das mais duras etapas de que me recordo. 5500 metros de desnível positivo acumulado. Se ainda nada estiver resolvido, será aqui o primeiro assalto para todas as decisões.
La Loze que ficou conhecida como a subida do "I'm gone, I'm dead", a subida do descalabro de Pogi. Desta vez, a ascensão é feita pela vertente oposta a 2023, por Courchevel e não por Méribel, pela rampa este da montanha. Esta vertente é menos exigente, mas mais constante — sem pendentes irregulares tão típicas de Méribel, por onde se subiu em 2023 e em 2020.
Ainda assim: 26kms a 6.5% e um final em ciclovia com rampas de 14% a mais de 2000 metros, uma autêntica loucura — e o ponto mais alto deste Tour com 2304m. No dia 24 de Julho, quinta-feira, metam férias ou fiquem doentes.

Etapa 19 — Como se o dia anterior não fosse suficiente, como se o dia anterior não tivesse uma das mais duras e longas subidas da história do Tour, cá vamos nós outra vez. 4500 metros de acumulado, com final em La Plagne, essa mítica subida também muito feita nos anos 80: a última vez que foi feita no Tour foi em 2002, venceu o neerlandês Michael Boogerd. Mark Padun, no Dauphiné de 2021, também lá venceu. É de uma dureza e de uma regularidade ao nível das pendentes impressionantes, além da altitude proposta, claro. Provavelmente, o último dia a sério deste Tour.

Etapa 20 — Diria que teremos fuga novamente. Tem zonas demasiado difíceis para os homens rápidos e promete um arranque de etapa incrível na formação da fuga, com dureza logo no início.

Etapa 21 — Os sprinters realmente, coitados… Já nem lhes dão os Campos Elísios. A subida de Montmartre, que se fez na prova de fundo dos Jogos Olímpicos 2024, parece ter vindo para ficar e vai-se fazer por três vezes antes da meta nos Campos Elísios. E sabemos que a subida é dura, não só pela inclinação mas também pelo empedrado. O que, pois claro, significa que os sprinters podem ver-se arredados da luta pela última etapa, uma vez que toda a gente quer vencer no Tour, mais ainda em Paris. E se, diga-se, a classificação geral estiver muito apertada…

O que esperar ou como Vingegaard pode enganar as expectativas
É evidente, o Dauphiné trouxe-nos ainda mais incertezas sobre a capacidade de Jonas Vingegaard se bater com Tadej Pogačar. E se no Tour 2024 o dinamarquês chegou em condições muito precárias fisicamente, agora estão de igual para igual. E nas pendentes da prova de uma semana que mais serve de tubo de ensaio para a Volta a França, Pogačar foi sempre superior e reinou a bel-prazer.
Em teoria, o esloveno parte como grande favorito. Mas isto é o Tour e Jonas Vingegaard não é um corredor qualquer. Adora altitude (e temos muita, e muito acumulado), subidas longas (e temos muitas) e tem os genes e estrutura mental de um corredor fortíssimo, dos melhores deste século e que, de um momento para o outro, pode surgir num nível bastante superior àquele que apresentou no Dauphiné. Parece-me lógico que algo mudou no reino da Dinamarca após a violenta queda no País Basco: Vingegaard é hoje menos frio, demonstra emoções, demonstra fragilidade e a pergunta que coloco é óbvia: seria de esperar outra coisa?
Vingegaard achou que ia morrer. E isso só pode ter um efeito concreto num ser humano. Esta tese não é sobre como Vingegaard é hoje um pior corredor e melhor ser humano; pelo contrário, longe de mim apresentar tal acontecimento como uma desculpa, até porque o corredor da Visma está, dizem os números, cada vez melhor. O que é facto é que Pogi tem estado imbatível, melhor a cada dia que passa e Ving parece não ter encontrado a fórmula de o acompanhar ou mesmo bater, como fez no passado.
Repito: isto é o Tour e Jonas Vingegaard não é um corredor qualquer. O que é igual a dizer que nada está decidido. E não o digo para partir para o Tour animado com a ideia de ver luta até ao fim, digo-o porque acredito mesmo que Vingegaard pode aparecer na Grand Boucle a um nível bastante mais alto do que a maioria de nós perspectiva.
Quanto às equipas, a Visma tem um elenco de luxo. Sepp Kuss, Matteo Jorgenson e Simon Yates para a alta montanha é muito e boa gente. Wout van Aert é pau para toda a obra. Campenaerts e Affini para dar a cara ao vento. Benoot para média montanha, transições de altitude e início de grandes subidas. É uma maravilha de equipa. E vai ser muito interessante ver a disputa com a UAE na alta montanha.
A equipa dos Emirados traz João Almeida, Adam Yates, Sivakov e Soler. Em teoria, até diria que a Visma tem mais arsenal para os dias mais duros, mas vamos ser sinceros: quem é que vai resistir mais tempo do que João Almeida com o seu líder? Talvez um super Kuss, mas muito talvez. Isso nem sempre quer dizer tudo. Até porque esta Visma, tendo em conta o teórico favoritismo de Pogi, vai ter de ser aquela Visma a morder o tempo todo, sempre a sufocar, sempre a tentar expor o esloveno e, assim que o terreno inclinar, gastar as suas fichas mais preciosas (penso em Yates e Jorgenson) a partir o grupo, deixando Kuss como lapa de Vingegaard para os derradeiros momentos.
Pogačar vai ter como maior adversário à partida a sua cabeça. Os seus fantasmas, que deambularão pelo Hautacam, pelo Col de la Loze, pelo medo de voltar a perder perante Vingegaard. Ao mesmo tempo, se há característica que Pogačar sempre apresentou é que é um homem sem medo, de nada, de ninguém, talvez só dele próprio, talvez só de ir com demasiada sede ao pote, de ser demasiado ofensivo, de ser tão superior que um dia as coisas correm mal.
Quanto à luta pela classificação geral, não vejo mais ninguém com capacidade para se intrometer. Claro que a presença de Roglič e de Evenepoel saúdam-se e são boas para a corrida, teremos quatro corredores vencedores de Grandes Voltas na luta pelos primeiros lugares da maior corrida do mundo — estou a contar que desta vez Roglão não cai, ok? Mas acho difícil que algum destes senhores tenha pernas para se juntar aos outros dois camaradas — o esloveno já perdeu o comboio e o belga ainda não o conseguiu apanhar propriamente.
Quanto à presença de João Almeida, defendo que o português deve alhear-se da pressão da classificação geral. Deve trabalhar para o seu líder, estar lá para tudo e mais alguma coisa e depois, consoante o que acontecer durante a prova, ver para o que dá. Gostava até de ver João Almeida apontar a vitórias em etapas, mas claro que entendo que um pódio no Tour é algo que qualquer corredor almeja e, se tal for possível, será muitíssimo bem-vindo e um grande motivo de orgulho. A prioridade tem de ser a vitória de Pogačar e eu não estou assim tão certo que o esloveno vença tão facilmente ao ponto de João Almeida andar com ambições pessoais, mas logo veremos.

Na luta dos homens rápidos e da camisola verde a coisa também promete. Philipsen, Milan e Merlier são os melhores sprinters do mundo e estarão todos presentes. Temos um problema: é que não há muitas oportunidades para o sprint. Diria que estamos a falar de 5 ou 6 chegadas em pelotão compacto e vejamos como se dividem as vitórias. Philipsen é aquele que mais provas dadas tem no Tour e vai apresentar-se com o melhor lançador do mundo: Mathieu van der Poel. Merlier tem sido inegavelmente o melhor ao longo desta temporada, mas sabemos como por vezes tem problemas de posicionamento — e convém não esquecer que a Soudal Quick-Step tem as baterias apontadas para Evenepoel. Quanto a Milan, sabemos da sua força, sabemos da qualidade do seu comboio; vejamos como se dá com os holofotes na sua estreia no Tour.
Mais especificamente sobre os pontos e a sua camisola, eu diria que com tão poucas chegadas ao sprint, não é de excluir a importância dos sprints intermédios nesta luta. E nesse capítulo, Philipsen pode ter capacidade de resistir até mais tarde em certos dias, superar algumas dificuldades com a ajuda da sua Alpecin, deixando pelo caminho Merlier e Milan. Por outro lado, a verde não é, à partida, uma luta a três. Há Biniam Girmay, o vencedor desta classificação em 2024, que tem conseguindo intrometer-se em algumas das chegadas em pelotão compacto, pode ter uma palavra a dizer. E por fim, claro, Wout van Aert. Se estiver para aí virado é, quem sabe, o mais forte candidato — embora saibamos que tenha outros afazeres.

Quanto à camisola das bolinhas, prefiro não arriscar. O texto já vai longo e há tanta gente que pode ter a montanha como objectivo, que eu cá prefiro não arriscar. Desconfio de um ou dois homens da Cofidis, mas vou guardar para mim.
Por fim, dar-vos conta também da presença de Nelson Oliveira na equipa da Movistar. É a nona participação no Tour do corredor de Anadia.
Não há nada melhor que a Volta a França, minha gente. Talvez presunto. Fico na dúvida. Talvez presunto a ver a Volta a França possa ser um bom plano.
Os aliens
Tadej Pogačar — Ainda gostava de saber quem foi o médico ou médica que fez o parto de Pogačar. É que é impossível não se ter visto logo ali qualquer coisa. Dito isto, já o disse acima, é o grande favorito. Vejamos se tal condição o trai.
Jonas Vingegaard — O dinamarquês parte abaixo do esloveno, o que, tendo em conta os jogos mentais, os bluffs, a dimensão táctica que a Visma gosta de imprimir nas Grandes Voltas, pode até não ser mau. Mas não vamos mentir, não seria uma surpresa ver Ving a voar, mas ninguém acredita que esse seja o cenário mais provável. Nem o próprio.
E os outros
Primož Roglič — Eu se fosse a ele caía ao primeiro dia e com muita pena minha teria de me dedicar à Vuelta. Lamento, senhor patrocinador.
Remco Evenepoel — Ele diz que a luta da sua carreira vai ser aproximar-se dos outros dois. E que ainda não será este ano que o irá conseguir cumprir. Seria bom que algum dia conseguisse. Não sei se teremos um Remco melhor do que o ano passado, mas também admito que não o esperava tão bem em 2024 e calei-me.
João Almeida — Então é assim, meu puto, sem stress, ya? Tu mantém-te tranquilo. Tu faz a tua cena. Depois a gente vê, ok? Não te preocupes. Agora a sério: não ataques o Pogi, por favor, não sejas Ayuso.
Florian Lipowitz — Alemão, 24 anos. Há quanto tempo é que a Alemanha não tem um destes? E olhem-me só para a equipa ao seu serviço: Roglič, Vlasov, Martínez, Tratnik…
Apostas falso plano
André Dias — O verdadeiro vencedor são os amigos que fazemos pelo caminho. Mas como o Pogi não tem muitos, ao menos leva a Geral.
Fábio Babau — Só há uma aposta. Tadej the GOAT.
Henrique Augusto — Eu sou uma pessoa que se rege pelos princípios da imparcialidade, racionalidade e moderação, pelo que a minha aposta não poderia deixar de ser João Almeida. Vamos caraças, até os comemos.
O Primož do Roglič — Tztztzzz, sou uma abelha. Sempre em busca do Tour: Vingegaard.
Miguel Branco — Se alguém porventura cair, sem que se magoe gravemente, e outro alguém subir na hierarquia ao ponto de lutar pela vitória no Tour eu nunca, mas nunca, iria admitir que estava a torcer para que tal acontecesse. Combinado?
Miguel Pratas — T4DEJ POG4Č4R.
Nuno Gomes — Vingegaard. Sofro do síndrome do underdog.
Rogério Almeida — 112th Tour de France: O Vingegaard.