Antevisão — Tour de Pologne

Uma prova muito aberta num percurso sempre divertido. É para o sprinter, é para o puncheur, é para o contrarrelogista. A Polónia é para toda a gente.

Antevisão — Tour de Pologne
Tour de Pologne

Introdução

Cada um no seu quadrado. E o quadrado da Volta a Polónia é este, ensanduichada entre o Tour e a Vuelta, uma prova suculenta que dá oportunidade de vitórias World Tour a corredores que nem sempre têm o seu lugar ao sol.

UAE na frente, como sempre. (©Szymon Gruchalski)

Basta lembrar-nos da primeira vitória em corridas de uma semana que João Almeida aqui alcançou em 2021. Mas não só. Pensemos em nomes como Pavel Sivakov (2019) ou Ethan Hayter (2022). Todos querem a sua Polónia. E não o digo de forma pejorativa, tendo em conta que o calendário é extenso e diverso; uma prova como a Volta a Polónia faz todo o sentido no panorama internacional. Consegue atrair sprinters, consegue chamar homens de geral e puncheurs ou corredores versáteis que num percurso normalmente sem muita montanha — ainda que bem acidentado — têm aqui uma palavra a dizer.

Durante muito tempo foi o quintal dos corredores polacos, mas esta prova internacionalizou-se sobretudo a partir dos anos 90 — recordo que a primeira edição desta competição foi em 1928, já lá vai quase um século. Tornou-se World Tour em 2005 (quando o circuito ainda se chamava UCI ProTour) e, desde então, não parou de conquistar importância. Pensemos apenas que, além de Almeida e Evenepoel, o vencedor de 2024 foi Jonas Vingegaard. 7 etapas, 1075 quilómetros, ciclismo para todos os gostos. Vamos lá à nossa Volta à Polónia.

O percurso

Etapa 1 — A autêntica etapa-panqueca. Quase 200 quilómetros de terreno plano, com três sprints intermédios e uma terceira categoria que só existe para que a camisola da montanha vá para o corpo de alguém. O primeiro camisola amarela será um homem rápido.

Wrocław-Legnica (199.7kms)

Etapa 2 — Aqui, com saída e chegada a Karpacz, a conversa já é diferente. Temos quatro segundas categorias, a primeira delas logo a abrir a etapa depois de uma ligeira descida. Segue-se um sprint intermédio e um sprint especial, outra segunda categoria e uma entrada no circuito que vai levar o pelotão a ultrapassar por duas vezes nova segunda categoria. Depois disso, novo sprint especial e a ascensão até à meta que, apesar de não ser categorizada, se faz em três quilómetros a quase 7%. Ou seja: só os sprinters mais versáteis podem ter uma hipótese e mesmo esses podem ver os interessados na geral a querer mexer.

Hotel Gołębiewski Karpacz-Karpacz (149.4kms) 

Etapa 3 — E ao terceiro dia, não há dúvida: a geral começa a ser jogada de forma efectiva em Wałbrzych. Um dia todo feito em circuito, excepção feita aos primeiros quatro quilómetros e aos últimos nove. Pelo meio ficam seis segundas categorias e uma primeira; bastante dureza, sempre em subidas curtas e inclinadas. O final não tem grande dureza, pelo que se espera chegada a solo de alguém que consiga sair na última dificuldade do dia ou um sprint num grupo reduzido.

Walbrzych-Walbrzych (159.3kms)

Etapa 4 — Mais uma etapa longa e mais uma etapa onde os sprinters poderão voltar a sorrir. Apesar de três dificuldades a meio da tirada, o cume da subida de Przelecz Salmopol fica a quase 70 quilómetros da meta. E apesar do final ser em falso plano, não deve haver grandes problemas para os mais velozes.

Rybnik-Ciezyn (201.4kms)

Etapa 5 — Depois de 8 anos de ausência, Zakopane volta a acolher o final de uma etapa da Volta a Polónia. Da última vez, e com um final bastante mais duro, venceu Jack Haig a solo, num dia em que Rui Costa fechou em quarto lugar. Esta etapa 5 pode tornar-se perigosa uma vez que contém as subidas mais longas desta edição da prova. Ainda assim, não são assim tão duras e estão muito longe da meta. Vai ser difícil os sprinters chegarem e uma fuga ou um lonely rider podem ter uma palavra a dizer.

Katowice-Zakpone (206.1kms)

Etapa 6 — Eis a já clássica etapa em torno de Bukowina na Volta a Polónia. Partida do resort que tantas vezes se cruza com a história desta corrida, chegada também lá muito perto, na subida de quase dois quilómetros a mais de 7% de pendente média. Antes disso, a Sciana Bukowina vai meter toda a gente em sentido: 2,5kms a 8%. E como podemos ver é uma etapa em circuito, que passa estas várias montanhas por várias vezes. Vai ser full gas.

Bukowina Resort-Bukowina Tatrzańską (147.5kms)

Etapa 7 — É certo que os contrarrelógios são já um clássico da Volta a Polónia. Mas não os víamos na última etapa, e com um peso tão decisivo na GC, desde 2016 (Dowsett venceu a etapa, Wellens a GC). É muito provável que as diferenças de tempo sejam recuperáveis para muito boa gente. Por isso, esperem fogo-de-artifício no domingo.

Wieliczka-Wieliczka (12.5kms)

O que esperar?

Há uma coisa muito positiva na Volta a Polónia 2025: não há Vingegaard. Perdão, não é nesse sentido. Calma. O que quis dizer é que não se encontra, nesta lista de partida, um enorme favorito, alguém que esteja claramente à frente dos outros. E isso parece um excelente prenúncio, um prenúncio de uma semana de prova bem mexidinha, bem como a gente gosta, com dimensão táctica — o que também pode significar parvoíce táctica, que é algo que eu prezo bastante.

A UAE traz, mais uma vez, um dos blocos mais fortes. Jan Christen, Brandon McNulty e um Rafał Majka (que recentemente anunciou que 2025 é o ano da despedida; e que aqui se vai apresentar com a camisola de campeão nacional polaco…) são um trio bem perigoso para a classificação geral e para tentar, como sempre, impor o seu domínio.

A Red Bull vem também com boa munição: Max Van Gils, Finn Fisher-Black e Dani Martínez é fruta da boa para se intrometer na luta pela competição.

A INEOS traz Magnus Sheffield e o recentemente regressado após longa ausência — e a correr em casa — Michał Kwiatkowski. Uma dupla que promete dar luta, seguramente. O americano tem aqui uma prova bem ao seu gosto, com subidas curtas e um contrarrelógio final. O sonho de uma primeira vitória em corridas por etapas está mais do que vivo.

A Bahrain traz um Tiberi que é naturalmente candidato. E um Pello Bilbao que está fora de forma, mas que pode sempre aparecer combativo e difícil de bater, sobretudo tendo em conta que este percurso é muitas vezes feito de sobe-e-desce.

Dito tudo isto. O que é que eu espero? Todo ao molhe e fé em Deus. Acho que a UAE vai querer mandar. A Red Bull vai querer dizer que também o sabe fazer. E teremos dias mais calmos, onde a Visma também fará o seu papel de líder, quer para Kooij, quer para Brennan. Na Polónia, muitas vezes temos chegadas ao sprint em grupos reduzidos porque as dificuldades não são assim tão exigentes. Espero receita similar este ano. Pequenas diferenças, a importância das bonificações e um contrarrelógio final que vai fechar as contas.

Tudo ao molhe e fé em Deus

Jan Christen — A forma é boa. O egoísmo é uma parte importante no que à obtenção de vitórias diz respeito. E o talento também, claro.

Maxim Van Gils — Já mostrou que está bem. Este percurso tem a sua cara. E quer, seguramente, demonstrar que a ida para a Red Bull não foi por mero acaso.

Antonio Tiberi — Aqui há gato. O Tiberi vem à Polónia preparar a Vuelta, o que não sei se faz assim tanto sentido — ou isto pode ser apenas uma forma de ganhar quilometragem nas pernas em direcção a mais uma Grande Volta. Por outro lado, há um contrarrelógio no final… 

Mathias Vacek — Acho que algumas das subidas podem ser too much para o checo, mas se há coisa que Vacek nos tem ensinado é que talvez seja melhor não empregar a expressão too much em relação a si.

Max Poole — O Giro não foi péssimo, mas podia ter sido melhor. Desde então fez um mau Dauphiné, de onde viria a desistir — tal como também abandonou na prova de estrada dos nacionais britânicos. No entanto, a PicNic desespera por pontos e é preciso respeitinho pelo vencedor do Tour de Langkawi 2024.

Magnus Sheffield — Já venceu no Paris-Nice este ano e ficou em quarto na GC apenas atrás de Jorgenson, Lipowitz e Arensman. Cuidadinho.

Brandon McNulty — Não corre desde o Giro, o que me deixa bem às cegas quanto à sua forma. Será que vai andar à bulha com o Christen ou vai ser amigo do Majka?

Apostas falso plano

André Dias — Maxim van Gils. Adoro um ciclista que vive como se estivesse sempre numa white party em Vilamoura.

Fábio Babau — Se eu não Tiberi esperança no Antonio, quem terá?

Henrique Augusto — Dani Martínez faz a sua aparição anual.

O Primož do Roglič — Diego Ulissi, a aquecer o lugar para o Roglič.

Miguel Branco — Jan Christen. Nem que tenha de atacar o Majka.

Miguel Pratas — Vacekada.

Nuno Gomes — Fisher-Black na loucura.

Rogério Almeida — Com este calor sabe mesmo bem uma Max Poole.