Antevisão — Volta a Portugal
Preparem o grelhador e a geleira, bebam uma mini na subida à Senhora da Graça e pensem em quem pode ousar suceder a Mauricio Moreira.

Introdução
É o tempo da nossa volta. Que talvez merecesse um dia voltar a contar com um pelotão como o de 1998, com as armadas da Euskaltel, Banesto, Festina. Fazem-nos falta equipas World Tour, fazem-nos falta os homens que até costumam vir à Volta ao Algarve. Talvez um calendário ibérico unificado começasse a ser uma solução, mas é o que é, e que seja uma Volta bonita, hidratada, sem fumo de incêndios e sem casos.
São 11 dias de corrida, um de descanso, mas acho que este ano não há aquele programa, o "Há Volta", na RTP. Mas no dia de descanso o Agir toca na Guarda. Gostava mesmo que existisse uma reviravolta para podermos ouvir o Marante.
O percurso
Vai ao centro, vai ao sul e acaba a norte. Regressam passagens por cidades emblemáticas e o percurso, não sendo surpreendente, é equilibrado. Só faltam as ilhas, mas infelizmente a "Grandíssima" tem vivido voos curtos nos últimos anos. De 9 a 20 de agosto, a Volta vai ser discutida pelos trepadores das equipas portuguesas e talvez sorria a quem tiver pedal para uma dose extra de contrarrelógio.

Há sterrato à portuguesa em Fafe, na etapa 8, subidas tramadas (destaque para a etapa 5, com chegada à Torre; a etapa 7 no Larouco; a etapa 9 na Senhora da Graça e ao sobe e desce na etapa que acaba na Guarda, a tirada 6. São etapas que aliadas ao calor de Agosto podem até causar dificuldades às cabrinhas do monte. Para fechar, haveremos de ir a Viana para o contrarrelógio que pode vir a ser decisivo.
O que esperar
Prevejo que as decisões estejam reservadas para a segunda semana. A Torre não tem feito diferenças nos últimos anos. Após o dia de descanso, já a coisa aquece mais.
Não é preciso uma bola de cristal para entender também que será a Glassdrive Q8 Anicolor, de Mauricio Moreira, a pegar nas despesas da viagem.
Há uma expressão, a saída à portuguesa, que alguns corredores estrangeiros usam sobre o ritmo imposto cá no burgo. É de loucos e muitas vezes anárquico. Lembro-me de perguntar ao Franco Pelizzoti, em 2016, como era correr em Portugal. E o homem, um ano antes de servir de escudeiro a Nibali, dizia que era muito, muito difícil.
Posto isto, esperamos uma luta entre equipas portuguesas, mas com claro favoritismo para a Jumb…Glassdrive-Q8-Anicolor.

As equipas
Glassdrive-Q8-Anicolor: A armada flúor. Para termos noção, no troféu Joaquim Agostinho colocou quatro homens no top-5 final.
Tem o campeão em título Mauricio Moreira. O uruguaio este ano já ganhou a Clássica da Primavera, o GP O Jogo e o Troféu Joaquim Agostinho e se fosse ao Tour não sei se não metia o Ving a soro. Aos 28 anos esperava vê-lo lá por fora. Antes já andou pela Caja Rural, foi segundo na Boucles de La Mayenne, à frente do Bryan Coquard. É bom a subir e acho que pode fazer a diferença para todos no contrarrelógio.
Depois há o Frederico Figueiredo. No ano passado foi segundo na Volta, chegou a pensar-se que poderia vencer. Está a fazer uma temporada boa e anda sempre bem. Para mim é o principal rival do Mauricio.
Quem também anda a fazer uma excelente época é o russo Artem Nych, antigo homem da Gazprom. Tenho dúvidas sobre o fator calor, mas isso não o pareceu afetar no GP Joaquim Agostinho. Depois há ainda Rafael Reis, que é especialista nos ataques ao relógio e o australiano James Whelan, que já correu na Education First. Luís Mendonça e Rafael Costa podem ter oportunidades em etapas.
A ABTF Betão – Feirense tem o António Carvalho, que teve uma lesão complicada neste ano mas que é sempre um nome incontornável. Vai liderar o conjunto de Santa Maria da Feira, pode importunar a antiga equipa e almejar a um bom lugar na classificação geral. E pode também fazer um daqueles ataques da 600 quilómetros da meta que nos faz acordar da sesta. Gosto muito do Pedro Andrade, acho que tem talento para caçar uma etapa, e para os sprints há o Santiago Mesa, que até começou o ano a ganhar a prova de abertura.
Sinto-me curioso para ver a EFAPEL. No ano passado havia muita expectativa, mas falharam todos o top-10. Tiago Antunes e Joaquim Silva devem liderar a equipa de José Azevedo, embora Henrique Casimiro seja sempre um homem super regular. Joaquim Silva é um dos melhores do pelotão nacional, tem vários top-3 da geral neste ano e no ano passado foi terceiro. Ao Tiago pede-se também um ano de afirmação. Achava que estaria presente o Keegan Swirbul, um norte-americano que prometeu bastante, mas pela lista de pré-inscritos afinal não vai. Atenção ao Rafa Silva, época com muita qualidade deste finalizador português. Como sempre.
A Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados já ganhou. Porque se acharem um nome mais engraçado, digam. Gustavo Veloso é o diretor desportivo, mas a equipa está virada para as chegadas rápidas. Leangel Linarez é rápido, ganhou duas etapas na Volta ao Alentejo e pode chocar aqui um ovito. João Matias sprinta super bem, ganhou na Volta no ano passado e já venceu ao sprint este ano no GP O Jogo. Será para ele que a equipa vai trabalhar. Para a GC, acredito que Bruno Silva poderá estar a andar bem.
A APHotels and Resorts – Tavira – SC Farense tem na veterania a maior força, embora tenha gente jovem também. Ainda por cima há Algarve nesta volta, por isso vão querer estar bem. Mal também não iam querer estar, mas enfim, saiu-me isto e agora já não quero apagar. Atenção aos espanhóis Delio Fernandez e Alvaro Trueba.
Rádio Popular-Paredes-Boavista: Os axadrezados querem tirar a pantera de anos mais amestrados na Volta. Há César Fonte de regresso à casa que deixou em 2016. Aos 36 anos ainda tem explosão e provou-o em Paredes, no troféu Ribeiro da Silva. A época tem sido discreta para os restantes companheiros, mas Hugo Nunes desperta-me curiosidade.
Kelly UDO Oliveirense: Aí está o Luís Gomes, um dos mais versáteis corredores portugueses, tem andado a top todo o ano. Tem três vitórias de etapa em edições da Volta a Portugal, é muito bom corredor e se não tiver azares vai andar muito bem nesta edição. Espetáculo esse certamente vai querer dar. O colombiano Adrian Bustamante teve uma ótima Volta ao Alentejo, onde foi segundo, mas depois eclipsou-se um bocado. Atenção também ao promissor José Sousa.
Aviludo - Louletano - Loulé Concelho: A equipa de Loulé (não sei se perceberam no nome) tem tido Vicente Garcia de Mateos bem longe da regularidade de há uns anos. Não sei bem o que pensar. Talvez o homem forte para procurar dar brilho aos algarvios de Loulé seja o argentino Tomas Contte, argentino que corre pelo conjunto de Loulé. E há sempre César Martingil. Seria bonito ganhar em Loulé, nos 100 anos do Louletano. De Loulé. Loulé, Loulé. Louléééé. Louletano-Loulé.
Credibom/ LA Alumínios/ Marcos Car: sigam de perto o Diogo Narciso, um sprinter português de boa qualidade e com apenas 21 anos. O João Medeiros também sobe bem e já sabe o que é ganhar neste ano. Li que o Marcos Car é um stand de automóveis e era fixe terem bons carros de apoio.
Equipas estrangeiras: Todas juntas não fazem quase uma. A Caja Rural traz segundas linhas porque há Volta a Burgos na mesma altura. Nem o Iúri vem. A Burgos também traz o refugo porque há Volta a Burgos, embora tenha Miguel Fernandez, este ano sprintou bem na China e no Gabão. Também há o Cyril Barthe, habitualmente caça etapas no calendário português. A Euskaltel tem o António Jesus Soto, que às vezes faz umas gracitas. E vem o quase quarentão Luis Angel Mate. Não sei se ele ainda a tem, mas há uns anos possuía uma trança fina à Anakin Skywalker padawan, eu adorava.
A Kern Pharma traz o Carlos Garcia e o Alex Jaime, usam os dois óculos e são espanhóis.
A Bai Sicasal foi buscar o Francisco Campos, nada mau, o rapaz é muito bom a sprintar e tem sempre ótimos resultados. A Trinity era para vir mas afinal não vem, também há nacionais em Inglaterra e já não vinham o espetacular Luke Lamperti, nem o Nerurkar, nem o irmão do Pidcock. Mas pronto, também muitos ingleses no Algarve, já se sabe no que podia dar, se calhar é melhor assim. Das outras equipas não destaco ninguém, porém há sempre um especialista em prólogos que vem do nada e um sprinter que às vezes é bom, mas depois a subir são quase todos uns empenos. E não achem que sou nacionalista, para mim a única coisa boa das fronteiras passa por haver mais países e assim mais Voltas.
Apostas falso plano
Diogo Kolb — A Glassdrive ganha a Volta a Portugal. Até poderá dar para o Mauricio Moreira ir ao Uruguai no dia de descanso e voltar a tempo de vestir a amarela em Viana.
Fábio Babau — Mauricio Moreira.
Henrique Augusto — Frederico Figueiredo. Finalmente.
Lourenço Graça — Mauricio Moreira. Tão fácil que nem vai ter piada.
Miguel Branco — Joaquim Silva. Quem faz oitavo no Tour de l'Avenir é sempre candidato a ganhar a Volta.
Miguel Pratas — Desta vez a Glassdrive só mete dois no pódio mas ganha o Mauricio na mesma.
Ricardo Pereira — Vencedor da Volta a Portugal 2023? Em 2023, De Mateos. Daqui a dois anos, Afonso Eulálio.