Antevisão — Vuelta España Femenina by Carrefour.es
A rainha está de Vuelta.

Introdução
Longe vão os tempos em que a Vuelta Feminina era uma clássica de um dia anexa à masculina e chamava-se Madrid Challenge by La Vuelta. Agora já não há cá by para ninguém, é "bye bye bye" como cantariam os 'N Sync ou até um "é só beijinhos ou bye bye", de Filipe Sambado. Essa espécie de Vuelta cantava muito, mas não encantava. E pese embora ainda hoje pudesse ser ainda mais vigorosa, mais ousada no estilo, a verdade é que esta é já uma Grande Volta, pelo menos desde que, a partir de 2023, passou de cinco para sete etapas e teve um final épico nos Lagos de Covadonga (apesar da vitória nesse dia para Demi Vollering, Annemiek van Vleuten viria a segurar a classificação geral final por apenas nove segundos, num dos dias mais emocionantes de ciclismo dos últimos anos).

Não há dúvidas: este é o primeiro grande momento por etapas da temporada. E sim, é verdade que ainda lá está o "by", mas este é um "by" sério, é um "by" de uma marca que já protagonizou o melhor momento televisivo da história da televisão, quando em 2024 uma etapa da Vuelta masculina partiu do interior de um Carrefour. É claro que em 1996, no célebre "Agora ou Nunca", João Muge ganhou 125 contos para ser arranhado por uma iguana, enquanto gritava ao apresentador Jorge Gabriel "ponha, ponha, ponha". É importante não esquecer. É ela por ela, no fundo.
Bom, a divagação vai longa. Desfeito o nó: a Vuelta é aquilo que a gente precisa, uma prova por etapas séria, duas chegadas em alto bem exigentes, um contrarrelógio colectivo em Barcelona que desta vez é de manhã, boa startlist, só bons indicadores. Tem também a importância simbólica de ser a primeira vez que vamos ver Demi Vollering num teste destes com a nova equipa. Tem ao seu lado as guarda-costas Labous e Muzic, as mesmas que a tentarão levar à vitória no Tour; estamos, portanto, perante o primeiro round. Marianne Vos também vem, o que é sempre sinal de brilho extra, de elegância, de longevidade. E o mesmo, mas em jeito estás-de-volta-amiga, para Anna Van der Breggen. É fechar os olhos, respirar fundo, destapar a careca, e deixar que esta iguana nos pouse sobre a cabeça. Venga.
[Nota final: a Daniela Campos volta a marcar presença na lista de partida. E isso é francamente boa notícia. Se a Daniela chegar com pernas à Etapas 6...]
O percurso
Etapa 1 (TTT) — Para abrir, a excursão turística mais rápida que já se fez em Barcelona. Contrarrelógio de equipas curto, plano e recto, onde não se esperam grandes diferenças para a geral. Mas nota-se que as equipas estão a levar esta etapa a sério: aliás, é por isso que temos uma data de campeãs de pista em prova.


Etapa 2 — Uma subida da praxe para coroar a primeira camisola da montanha e depois quase tudo plano até ao fim. Boas hipóteses de dar sprint. Ou não. É ciclismo feminino, se há uma descida longa isto nunca se sabe.

Etapa 3 — A segunda etapa relativamente plana desta Vuelta. No papel, não há assim tantas sprinters de topo na lista de saída. Será um dia para aumentar o recorde de Vos? Um dia para uma das novas promessas do sprint (Wollaston, Gillespie)? Ou é tapas de fusão ou é outra vez arroz.

Etapa 4 — Já se começam a ver as lombas. Subidas constantes no Alto de Moncayo e no Puerto de El Buste, com chegada em descida. A julgar por edições anteriores, um ataque certeiro pode fazer aqui uma bela surpresa.

Etapa 5 — Paredón, paredón, ay que picazón. A chegada a Lagunas de Neila faz-se depois de 6.5km com média de 9.1%. Se não acontecer nada de esquisito, este é o primeiro dia a sério para montar o puzzle da GC.

Etapa 6 — Etapa feita à medida de uma fuga ambiciosa. Se as diferenças no dia anterior já forem grandes, o pelotão pode dar margem para tornar isto numa mini clássica para um grupo reduzido. (Sobretudo se a líder estiver na FDJ, há espaço para uma das outras 2-3 candidatas irem à procura de uma etapa).

Etapa 7 — Alto coto que saiu na rifa. Última etapa é para fazer como eu nas minhas férias: rebentar pernas e deixar tudo em Espanha. Três das cinco piores subidas em prova acontecem nesta etapa. Como são por ordem de dificuldade, vão eliminando malta pelo caminho. A última a chegar é um huevo roto. A primeira é bem capaz de ser a vencedora desta Vuelta.

Favoritas
Demi Vollering — Nas palavras da poetisa contemporânea Ana Malhoa, "a rainha está de volta. E se ela vai, ela senta". E nunca uma letra encaixou tão bem. Demi tem o toque de Midas: tudo o que mexe, ela ganha. Campeã em título da Vuelta e, como está a andar esta época, não parece que vá precisar de se levantar muito do selim para causar distâncias na montanha. É a melhor montanhista em prova. Tem uma FDJ de sonho (Labous, Muzic) a trabalhar para si. Querem outro facto divertido? Há dois anos que não perde uma prova por etapas em Espanha. Até fico pargo. Não é ela que é super favorita. As outras é que nem vão ter hipóteses.
Anna van der Breggen — A regra é simples: se há SD Worx na corrida, há uma favorita. Aqui, tudo aponta para que as fichas estejam na ex-aposentada e – ligeiro detalhe – ex-treinadora de Demi Vollering. Ela deve conhecer aquele Strava de cor. O último mês não lhe correu muito bem mas, se estiver recuperada, vai dar luta.
Pauline Férrand-Prévot — Outra que está de volta, mas aqui é mesmo ao ciclismo de estrada. A francesa largou o mountain bike e, em 2025, voltou à montanha da estrada. A aposta está a correr bem: um pódio na Strade Bianche e uma vitória em Roubaix para pôr o pelotão em sentido. Como é que isso se traduz numa Grande Volta? Não sabemos ainda. Mas vai ter espaço para brilhar.
A não perder de vista
Katarzyna Niewiadoma — Em circunstâncias normais, a vencedora do Tour de France 2024 seria favorita para qualquer Grande Volta. Só há um problema: as palavras da própria. Depois de uma época de clássicas bem abaixo do esperado, Kasia já veio dizer que abdica aqui da liderança na Canyon e vai trabalhar para a equipa. Mas que ela tem pernas para esta montanha, isso tem. E agora? Confio na ciclista ou no meu fanatismo?
Neve Bradbury — Olhem, é a líder da Canyon. E candidata a ser a "próxima grande cena" para as próximas Grandes Voltas. Já fez pódio no Giro do ano passado e dá-se muito bem com a montanha. Se a equipa formar um bom comboio... a serra pode ficar bem Nevada.
Marlen Reusser / Liane Lippert — A Movistar, como equipa da casa, tem na Vuelta um dos grandes objetivos da época. Para isso, trazem a melhor equipa que podem. Reusser é especialista de fugas, defende-se bem no contrarrelógio e já foi segunda este ano na Vuelta a Comunidad Valenciana; Lippert é muito consistente e vem de uma boa época de clássicas. Talvez os dias de montanha sejam demasiado para ambas, mas têm um equipón para ajudar. Com um TTT na 1ª etapa, prevejo que saia daqui a primeira líder da prova. Depois logo se vê.
Monica Trinca Colonel (pick aleatória do Dias) — Este ano, a equipa que mais gosto de ver correr no pelotão feminino é a Jayco. Puxam quando é para puxar, respondem a ataques e vão sempre à luta; só nunca sabemos com quem. Para esta Vuelta, apesar da liderança da espanhola Mavi García, eu acho que quem vai dar cartas é Colonel. Não me peçam para explicar muito. Há fezadas que vivem connosco.
Marion Bunel (pick aleatória do Branco) — Eu sou teimoso. E assim que a vi ganhar o Tour de l'Avenir decidi que era a minha corredora preferida. Está a subir de forma e é uma trepadora das melhores que o pelotão tem. Aqui há dois paredões a sério e a Ferrand-Prévot vai trabalhar para a jovem compatriota. Pardon my french.
Apostas falso plano
André Dias — Juliette Labous faz pódio. Já nem tem piada apostar no resto.
Fábio Babau — Freaky, freaky, Demi.
Henrique Augusto — Demi la vá a bailar en la cara de sus enemigas.
O Primož do Roglič — Visma siempre. Férrand-Prévot.
Miguel Branco — Agora a sério, a Vollering vai limpar isto. A não ser que a Reusser ganhe 20 minutos numa fuga solita. Nada que não possa acontecer.
Miguel Pratas — Vollering com Demi nutos de avanço.
Nuno Gomes — Chegou o terreno dela. Demi.
Rogério Almeida — Demi, vai dar uma ganda vuelta.