Ciclocrosse: Para manter a forma.
A época de estrada termina, o Outono caminha para o Inverno. Chegam as tardes no sofá, a manta nas pernas, uma comida reconfortante e o ciclocrosse na televisão.

Ver ciclocrosse é muito mais do que ver alguém andar de bicicleta. É ver os vários obstáculos e adversidades que eles enfrentam, é ver os diferentes terrenos que têm na mesma prova, e com isto ir buscar memórias de infância, e pensar "eu fazia isto em criança, mas não recebia dinheiro, e ainda ralhavam comigo por chegar sujo a casa". Quando acabam e estão todos sujos de lama, aquilo não é simples lama ou uma camisola e bicicleta suja, aquilo é o glamour do ciclocrosse.
E não, não vemos tudo o que tem duas rodas e pedais, mas somos multidisciplinares, vemos Ciclocrosse, MTB, Gravel e, sejamos sinceros, só algumas provas de pista. Vou fazer aqui uma "breve" apresentação do ciclocrosse e como base no meu conhecimento (que é pouco). A época de CX já começou em 16/08 na Austrália mas não vamos entrar nesse nível se não temos de falar do Tristan Nash e a Peta Mullens. Para mim, oficialmente a época começa com o primeiro Exact Cross que este ano foi no dia 04/10 com a prova "Exact Cross Meulebeke - Berencross 2025" .

História
E não caros leitores, o CX não foi criado com o aparecimento de Wout van Aert ou Mathieu van der Poel, apesar de parte do crédito da publicidade ao ciclocrosse lhes possa ser atribuidas. O CX é uma modalidade que foi criada no início do século XX pelos ciclistas de maneira a manterem a forma durante o inverno e, apesar de as melhores provas e as mais prestigiadas serem na Bélgica e Países Baixos, a origem das primeiras provas oficiais foram em França.
Com os circuitos de ciclocrosse a serem criados mais tarde que o Mundial masculino (1950 data da primeira edição), é no inicio da década de 80 que se começam a contabilizar os melhores ciclistas masculinos, pois foi quando começaram a existir mais registos. No masculino o circuito mais antigo é o Superprestige com a sua primeira edição na época 1982/83.
No feminino o primeiro Mundial só aconteceu no ano 2000 e, tal como no masculino só começam aparecer registos de provas desde essa data. O circuito feminino mais antigo é UCI Taça do Mundo que teve a primeira edição em 2003/04.
Na história temos o registo de vários grandes ciclistas masculinos, nomes como: Albert Zweifel, André Dufraisse, Renato Longo, Roland Liboton ou até mesmo Wout van Aert. Mas os que ganham mais destaque são Sven Nys "O Canibal de Baal", Eric De Vlaeminck e Mathieu van der Poel. Sven Nys ,o ciclista com maior número de vitórias, um total de 276. Apenas 2 Mundiais, e digo "apenas" pois ele corre o primeiro em elites em 1999 (correu contra o pai de MvdP) e o último em 2016 (correu contra o Mvdp). Dada a qualidade Nys e a longevidade da carreira eu acho que 2 Mundiais sabe a pouco.
Por ultimo vêm os dois "monstros" da modalidade, o Eric De Vlaeminck, irmão do "Monsieur Paris-Roubaix", Roger De Vlaeminck. Eric também deu as suas cartas na estrada e inclusivé nos seus dois últimos anos correu ao lado de Patrick Lefevere. No ciclocrosse foi considerado o rei, com 7 Campeonatos Mundiais, uma marca que parecia difícil de bater. Mas ainda estava por vir MvdP, ele que o ano passado alcança o seu 7.º Mundial, chegando a um total de 230 vitórias. Já é considerado o maior ciclista de ciclocrosse, e de certeza que este ano volta para tentar conquistar o 8.° Mundial.

Sendo que no feminino só se começou a haver registos no inicio dos anos 2000, tenho que dar destaque a Hanka Kupfernagel, que foi a primeira campeão mundial (somou um total de 4 mundiais na sua carreira), e a Sanne Can, a tri-campeã mundial que com 126 vitórias é a ciclista mais vitoriosas (retirou-se este ano e vai ser treinadora da Vas e Schreiber pela SD). Temos também Lucinda Brand e Ceylin Alvarado que já deixaram a sua marca e ainda querem continuar a fazer história. Por fim temos a dupla da Visma, a jovem de 23 anos Fem van Empel ciclista que ganhou os últimos 3 Mundiais, é dada como a sucessora da Vos, em termos de perfil de ciclista. E a segunda Visma é a Rainha disto tudo, Marianne Vos com um total de 108 vitórias, 8 títulos mundiais, 3 destes títulos coincidiram com anos em que conquistou também (2006/12/13) o título na estrada.

Falando em história, está a ganhar cada vez mais força nos meios de comunicação, a possibilidade do ciclocrosse ser modalidade olímpica em 2030 no Jogos Olímpicos de Inverno nos Alpes franceses. Vamos ter o MvdP campeão olímpico com 35 anos? Ou Pidcock com 31? Acho que vai ser para um desses miúdos como o Nys ou Del Grosso. É isso sai Hot-Take , Nys vai ser o primeiro campeão olímpico de ciclocrosse.
As provas
No ciclocrosse os ciclistas dão voltas a um percurso com um máximo de 3,5 km. Durante este percurso eles atravessam estradas, caminhos de terra, áreas lamacentas, caixas de areia ou por vezes mesmo praias, até já andaram na neve. Também passam umas pontes e escadas feitas mesmo para a prova, isto tudo com uma bicicleta quase igual à de estrada.
Cada prova não tem uma duração ou voltas fixas, embora normalmente tenham a duração entre 40-60 minutos. O número de voltas só é decidido geralmente entre a primeira e segunda volta, tendo em conta a média de tempo que os ciclistas realizam.
Nys, Ronhaar, Brand e Lars van der Haar a explicar um pouco da bicicleta de CX. ( Video : IG baloiseglowilions)
O CX tem vários circuitos em vários países, mas vou falar brevemente dos principais quatro.
Exact Cross Circuito que neste momento tem seis provas na Bélgica e uma nos Países Baixos. É um circuito em que os corredores não correm por um prêmio final de época, mas sim pelo prémio prova a prova.

X2O Trofee O X2O Trofee é um circuito que é totalmente corrido em solo belga, atualmente conta com oito provas. É uma circuito que não usa o sistema de pontos, mas sim por tempo. Ou seja vão acumulando o tempo que fazem em prova e como é óbvio ganha o que fizer menos tempo. Os três primeiros lugares de cada prova têm bonificação de 15-10-5 segundos. O curioso aqui é que ninguém perde mais de 5 minutos, mesmo que cheguem 6, 7 ou mesmo a 10 minutos do vencedor ou mesmo que desistam, só perdem no máximo 5 minutos. Mesmo que faltem uma prova também só contam 5 minutos. É uma maneira que arranjaram de manter os ciclistas interessados em participar e ainda poderem almejar uma boa classificação caso falhem uma prova. O vencedor da classificação geral do ano passado foi Eli Iserbyt no masculino e nas mulheres tivemos como vencedora a Lucinda Brand.

Superprestige
O circuito mais antigo e o segundo mais importante neste momento. Conta com 8 provas e todas corridas na Bélgica, mas por vezes também tem nos Países Baixos, pois as provas vão alterando de circuito em circuito dependendo principalmente dos interesses monetários. O Superprestige é uma corrida por pontos e vence o que tiver mais pontos no fim das 8 provas. Os pontos são entregues aos 15 primeiros a chegar. O vencedor do ano anterior nos homens foi o Niels Vandeputte e nas mulheres foi a Lucinda Brand.
Sistema de pontos Superprestige
1. | 15 |
2. | 14 |
3. | 13 |
4. | 12 |
5. | 11 |
6. | 10 |
7. | 9 |
8. | 8 |
9. | 7 |
10. | 6 |
11. | 5 |
12. | 4 |
13. | 3 |
14. | 2 |
15. | 1 |

UCI Taça do Mundo
A UCI criou este circuito na época 1993/94, com o objetivo de levar o ciclocrosse a mais países. Neste momento conta com 12 provas (7 na Bélgica, 1 Países Baixos,1 Espanha, 1 França, 1 Chéquia e 1 Itália), sendo o mais longo e mais importante circuito do ciclocrosse. Estes países e locais das provas podem ir variando de ano para ano, pois já tivemos no EUA, Suíça e Irlanda, por exemplo. Também funciona por sistema de pontos, e conta até ao 25.° a chegar. O vencedor da ultima edição foi Michael Vanthourenhout para os homens e, quem mais podia ser se não a Lucinda Brand para as mulheres, dominou por completo as principais classificações.
Sistema de pontos UCI Taça do Mundo.
1. | 40 |
2. | 30 |
3. | 25 |
4. | 22 |
5. | 21 |
6. | 20 |
7. | 19 |
8. | 18 |
9. | 17 |
10. | 16 |
11. | 15 |
12. | 14 |
13. | 13 |
14. | 12 |
15. | 11 |
16. | 10 |
17. | 9 |
18. | 8 |
19. | 7 |
20. | 6 |
21. | 5 |
22. | 4 |
23. | 3 |
24. | 2 |
25. | 1 |

Ciclistas
Tanto no masculino como feminino temos ciclistas conhecidos da estrada a participar nas provas de ciclocrosse. E sei que todos gostam de ver WvA e MvdP, mas eles só devem aparecer durante o mês de dezembro, e Pidcock se aparecer este ano deve aparecer para o fim de novembro, antes de MvdP e WvA. Eu também adoro ver WvA e MvdP a disputar as provas como foi em 2022/23, mas vou ser sincero prefiro ver sem eles. Para ver sempre o mesmo a ganhar já temos Pogačar o resto do ano.
Porque os ciclistas cada um tem a sua especialidade e, de prova para prova um é melhor que outro dependendo do terreno. Pois temos provas com mais areia, mais subidas, outras em que exige mais técnica de salto ou mesmo de correr com a bicicleta em braços. E com os ciclistas "normais" essas diferenças notam-se de prova para prova. Quando estão WvA e MvdP isso não se nota, ou melhor notamos mas só entre eles os dois. Com Pidcock, ele não tem uma diferença muito grande para os outros e as corridas são emocionantes na mesma.
Enquanto os 3 atrás mencionados não entrarem, nós vamos poder assistir aos ciclistas que vão disputar a época toda e a lutar pelas classificações gerais. Estes para mim são os que vão andar a lutar pela vitória final dos circuitos: Michael Vanthourenhout, Laurens Sweeck, Toon Aerts, Lars van der Haar, Niels Vandeputte, Joris Nieuwenhuis, Thibau Nys e uma incógnita, Eli Iserbyt, na luta pela gerais pois ainda sofre de lesão e pode atrasar-se na luta, mas quando entrar vai entrar para vencer provas. Mas nunca podemos deixar de olhar a outros ciclistas que também vão aparecer e até podem dar luta aos acima mencionados, tais como: Joan Wyseure, Emiel Vestrynge, Pim Ronhaar, Filipe Orts, Tibor Del Grosso, Jente Michels entre outros.

Nas mulheres não temos uma diferença muito grande, porque as " melhores" como Alvarado, Fem van Empel, Lucinda Brand correm quase a época toda. A única que entra sempre um pouco mais tarde é a Puck Pieterse. E mesmo estas quatro ciclistas, também chegam a perder para outras ciclistas como por exemplo : Blanka Vas, Marie Schreiber , Van der Heijden, Zoe Backstedt, Sara Casasola, ou Shirin van Anrooij, se decidir correr CX, por exemplo.
Dos nomes atrás mencionados retiro Puck Pietersen, Blanka Vas, Marie Schreiber ,Zoe Backstedt da luta por todas GCs, porque devem entrar tarde. Mas podem entrar a tempo ainda de lutar pela GC da UCI Taça do Mundo, principalmente Vas e Schreiber que é o objetivo da SD. Mas retirando estas ciclistas tenho de colocar outros nomes que podem e vão tentar dar luta pelas GCs que são: Annemarie Worst, Aniek van Alphen, Laura Verdonschot e Leonie Bentveld. Mas existem mais nomes que podem por vezes aparecer e fazer boas prestações como: Manon Bakker, Marion Norbert Riberolle, Alicia Franck, Isabella e Ava Holmgren, Fleur Moors, Célia Gery, Lauren Molengraaf e Denise Betsema entre outras.

Em termos de nações no domínio, temos a Bélgica e os Países Baixos. No feminino os Países Baixos são a maior potência por isso se virem os Europeus e Mundiais não estranhem em ver muitas ciclistas de cor laranja na frente e atacarem umas ás outras, porque ali não há "equipas" e é cada um por sim. O mesmo acontece no masculino, mas com a Bélgica, que sempre foi a seleção mais forte, mesmo agora com MvdP a quebrar essa hegemonia belga. Quando estamos a ver um mundial ou um europeu vamos ver sempre muitos belgas nas primeiras posições a lutar pelos títulos (ou pódio depende do MvdP) entre si.
Para finalizar este fim de semana, vamos ter no sábado mais uma prova do Exact Cross e no domingo a primeira prova do Superprestige.
Também temos 3 provas oficiais UCI que decorrem em Portugal, todas durante este mês: Dia 18 Ciclocrosse De Melgaço, dia 19 Ciclocrosse Internacional De Vouzela e dia 26 Ciclocrosse Cidade Vila Real.